VELUDO AZUL - Um artigo de opinião de Miguel Guedes.
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Voltando às vitórias, após a derrota injusta em Milão e a calamidade inusitada frente ao Gil Vicente, a manutenção da diferença de 8 pontos para a liderança é um tónico que sabe a amargo.
A ideia de que ainda nada está perdido esbarra nas estatísticas e no choque frontal com a realidade, a nossa e a dos outros.
O FC Porto sabia que não podia voltar a escorregar na Liga e colocou-se a jeito no imenso jogo do galo no Dragão. Correr atrás do prejuízo, agora, parece querer assumir uma dívida inexistente entre credor e devedor. Ficámos a dever a nós mesmos a solidez que só atingimos na Liga dos Campeões, depois de virar metade da fase de grupos. Talvez porque "isto aqui era uma orquestra e quem diz o contrário é tolo", como cantava José Afonso, Sérgio Conceição deu a pauta na "flash interview", assumindo ter escolhido uma equipa que pudesse tocar bombo em Trás-os-Montes.
As mudanças introduzidas no 11 inicial formulavam o resultado da estratégia. Adeptos houve que olharam para o calendário, esquivos, à espera de encontrar a segunda mão da Liga dos Campeões durante a próxima semana. Ao engano. Mais do que a gestão física, Conceição elegeu a capacidade física da equipa como determinante para vencer em Chaves. E assim, foi na vontade e na circulação de bola, veloz mas nem sempre com segurança e acerto, que o FC Porto arrancou três pontos. Sem Pepê e sem Taremi, relegados para o banco quando sabia que já não contava com Galeno, Evanilson, Uribe e João Mário, Sérgio Conceição arregaçou as mangas da equipa e assinou por baixo um tratado de comprometimento coletivo. Um desafio ao aforismo. A fechadura para um resultado singular em Chaves só abria com o empenho de quem quisesse mostrar que para lá do Marão, desta vez, só mandariam aqueles que lá não estão.
Foi a toque de bombo que a equipa regressou às vitórias e será a toque de redenção que tudo fará por vencer o Estoril na sexta-feira. Depois, será a reunir a orquestra que lutará por vencer o Inter, acedendo aos quartos de final da Liga dos Campeões. Para tal, chamará solistas, pelo que Taremi e Pepê dão-se como indiscutíveis na segunda mão dos oitavos da Champions. Sem Otávio frente aos italianos, o papel de Pepê e de Uribe é absolutamente nevrálgico. Na Europa, a ausência de quem faça duas posições de uma só vez, qual agente duplo num assomo de generosidade, só pode ser colmatada por uma equipa que coloque o bombo ao serviço da orquestra.