Conceição dá "certeza jurídica" ao futebol da equipa: está "condenado" à exigência
VELUDO AZUL - A opinião de Miguel Guedes, aos domingos n'O JOGO.
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O regresso ao trabalho do FC Porto ficou marcado pela normal rotina dos reencontros e ausências de um primeiro dia.
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Uma espécie de teste ou "check-in" para os trabalhos que amanhã arrancam e ganharão tónus durante a primeira semana, à medida que forem integrados outros jogadores que, pelas mais diversas razões, não puderam dizer "presente" à primeira chamada. O simples facto de ver os atletas a regressar ao Olival, equipados à singularidade dos novos equipamentos que sempre transportam o peso histórico da camisola do dragão, faz o adepto abandonar o período de absentismo de fervor e desinstalar, novamente, o freio convenientemente encomendado para esquecer, por um par de meses, que o campeonato não foi nosso. Ao dia 1, modo "on", já somos e sonhamos todos em azul e branco. A exigência de que Sérgio Conceição tanto fala e pratica, é a exigência pela qual o adepto se enamorou há muito e assumiu como sua. O adepto não prescinde desta forma de sentir o clube porque não abdica da sua forma de vida.
A permanência de Sérgio Conceição dá "certeza jurídica" ao futebol da equipa: está "condenado" à exigência. A garantia de conhecimento, adaptação e estabilidade que acompanhará a época do FC Porto é valor fundamental num momento em que, fruto da pandemia, as equipas passam por solavancos, tremores e vicissitudes dificilmente antecipáveis.
"Jogar bonito é ganhar, ponto final", porque Sérgio sabe que não pode ficar dois anos sem ser campeão
A ideia de um timoneiro e de um leme seguro, é confortável. Imagine-se o que seria este momento, até tendo em conta a manutenção de Ruben Amorim e Jorge Jesus ao comando dos principais rivais, se estivesse a ser vivido com um novo treinador dentro de portas. "Desafiar limites", diz Conceição, porque tendo-os testado, já os conhece. "Motivação permanente", refere, porque terá sentido como, por vezes, a equipa engrenava duas velocidades, consoante o consumo interno ou europeu. "Jogar bonito é ganhar, ponto final", porque Sérgio sabe que não pode ficar dois anos sem ser campeão. E é esta infalível exigência que nos motiva a elevar a esperança a certeza. "Como nós, um de nós".
Mas, tal como em relação ao défice, há vida para além da exigência. Na sua quinta temporada no FC Porto, Sérgio irá viver mais um encontro com o recomeço. Tal como na sua primeira vez, não estará para aprender, mas para ensinar. Mas quem terá para o ouvir? Essa é, ainda, a grande incógnita. Com o Euro e a Copa América ainda a decorrer e com a pandemia a aconselhar prudência ao mercado (pese embora as moratórias em matéria de "fair-play" financeiro), o grau de indefinição sobre boa parte do plantel é grande. Para que haja mais contratações, terão que sair jogadores. Sérgio bem pode exigir, impor, comandar pelo rigor e pela determinação, mas é necessário que a equipa saiba e consiga responder. Sabemos que já foi campeão sem nada exigir, quando provou que consegue fazer omeletes nas nuvens. Mas há sectores que precisam de reforço de afinação e não será só a experiência acumulada que conseguirá, como tanto deseja, "desafiar limites".