PASSE DE LETRA - Um artigo de opinião de Miguel Pedro.
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1 Na semana em que "a-promessa-que-já-é-uma-certeza" Álvaro Djaló renovou com o SC Braga, melhorando as suas condições contratuais, com uma nova blindagem de 40 milhões de euros para a cláusula de rescisão, o clube ultrapassou a fasquia dos 26 mil associados e vendeu mais de 10 mil lugares anuais para a presente época.
Duas notícias que, ainda que não pareça, estão ligadas. Como está ligada a circunstância do Moreirense-Braga, num jogo em atraso para o campeonato, ter merecido o relato nas rádios de cobertura nacional (as que habitualmente transmitem radiofonicamente jogos de futebol), coisa que, há poucos anos, era impensável.
E como está ligado ao facto de o Braga-Sporting ter sido promovido, pelo operador de tv que tem os direitos de transmissão da liga portuguesa, como "o Primeiro Clássico do Ano". E à inauguração da Cidade Desportiva na semana passada.
O SC Braga é, hoje em dia, diferente do que era há 10 anos, bem diferente do que era há 20 anos e muito diferente do que era há 30 anos. O estádio tem sido paulatinamente enchido de novos adeptos ( a média, este ano, é já superior a 20 mil espectadores por jogo), pois quem gosta de futebol, na região, sabe que o Braga é e será um "habitué" na luta pelos lugares cimeiros do nosso campeonato e nas competições europeias. É uma fábrica de talentos, "produzindo" não só jogadores, mas também treinadores, que são negociados e "transformados" em receita destinada a aumentar a capacidade financeira e desportiva da coletividade, projetando a sua imagem na Europa do futebol. Uma dinâmica de crescimento que tem sido acentuada nos últimos anos, e que será tanto mais valorizada quanto bem sabemos se tratar de caso único no panorama português, que esta época nem conseguiu colocar clubes a jogar na Liga Conferência. Falta, ainda, crescer no espaço público da comunicação, ainda anquilosada na ideia de um futebol "a três". Até quando?
2 Torna-se difícil escrever sobre o jogo de ontem. Como se explica tão deficiente exibição, principalmente na primeira parte? Uma permanente desconcentração terá origem na circunstância da cabeça dos jogadores estar já no jogo da próxima 4ª feira? Não sei. Sei que me foi custoso assistir a uma certa banalização de jogadores que - sei-o bem - têm muita qualidade. O certo é que a equipa parece ter sérias dificuldades em jogar fora de casa (em Portugal), não encontrando soluções contra equipas aguerridas, como foi o caso do Farense e do Moreirense ( jogo no qual a vitória disfarçou uma fraca exibição). É que, agora, jogar contra o Braga é, para estas equipas, jogar com um "grande" do nosso futebol, e isso exige adotar estratégias de que, nestes jogos, o Braga não parece atualmente dispor. Ou pode ter sido só um mau dia no trabalho...