Como é possível ter-se chegado a este ponto da época com as ideias ainda desalinhadas?
PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Opinião de José João Torrinha
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As questões que se colocam com a saída de Pepa não têm propriamente a ver com a valia do treinador. Pela parte que me toca, devo até confessar que a sua prestação enquanto treinador do Vitória teve para mim um certo travo a desilusão. As qualidades que tem de bom comunicador não apagam a imagem de uma equipa oscilante e muitas vezes sem identidade própria que todos víamos em campo.
Dito isto, sempre fui de opinião que o técnico deveria continuar, não só em nome da estabilidade, mas também com crença nas suas capacidades. Acreditava eu que ele era pessoa para aprender com os seus erros e melhorar, assim como todos os que o acompanhavam.
Aparentemente, a direção entendeu o mesmo, pois que foi com ele ao leme que decidiu enfrentar a época 2022/2023. E terá sido com ele que preparou o futuro.
A sua saída foi, por isso, uma surpresa e uma má notícia a tão poucos dias do início da época. Este é o segundo dossier em que a direção rompe com uma das principais figuras da estrutura do futebol alegando "desalinhamento" com as suas ideias. Aparentemente, quer neste caso, quer no de Diogo Boa-Alma, os visados não concordariam com a perspetiva de uma temporada pensada para tempos de "vacas magras".
O que nos leva à questão óbvia: então isso não lhes foi transmitido de forma clara a taxativa logo quando esta direção tomou posse? Como é possível ter-se chegado a este ponto da época com as ideias ainda desalinhadas?
A sucessão destes casos deve fazer refletir a direção na forma como lida com estas questões. Quer o treinador, quer o diretor desportivo são peças essenciais na construção de um projeto desportivo. Quer um quer outro devem ter voz ativa nas opções que vão sendo tomadas. O tempo em que as direções punham e dispunham e o treinador que trabalhasse com o que lhe davam já passou há muito.
A missão da direção e particularmente do seu Presidente é envolver e congregar à volta das suas ideias todos os atores principais mantendo-os a par de tudo, pedindo constantemente o seu input. Liderar é isto. É saber motivar todos para um objetivo comum e seguindo um rumo que todos aprovam, porque todos sentem que são uma peça importante do processo.
Ora, no caminho feito até aqui, algo falhou redondamente nessa comunicação e nesse envolvimento. Era importante que todos aprendessem com isso.