PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
Corpo do artigo
1 Mais do que um título isolado, a conquista da Copa Sul-Americana traduz uma afirmação de crescimento solidificado e qualidade de um projeto futebolístico.
O Independiente del Valle é hoje a face mais visível do crescimento do futebol do Equador (tornado a quarta potência na América do Sul Brasil, Argentina e Uruguai).
Mesmo que no seu onze estejam poucos jogadores equatorianos (de nível seleção só mesmo o jovem guarda-redes Ramirez), na sua forma de jogar está expresso, há vários anos, o primeiro passo fundamental para esse crescimento e afirmação: criar uma escola de jogo com um estilo definido que cruzasse seleção e clubes.
2 Uma construção que, a nível de treinadores, teve a influência do espanhol Miguel Angel Ramirez (entre 2029 e 2020), jovem técnico espanhol "guardiolista" que, então com 35 anos, só treinara equipas jovens (Las Palmas, AEK, Olimpiakos e na Aspire Academy do Qatar). Com suas ideias, mudou o estilo e destino do Independiente (que levou à primeira conquista da Sul-Americana em 2019). O seu futebol de toque, passes e construção apoiada, foi seguido, com traços próprios, por treinadores seguintes (como Remato Paiva) até Martín Anselmi, 37 anos, ex-adjunto de Gutierrez que guiou, emocionado, a equipa à conquista de 2022, após antes só ter orientado uma equipa, o Union Calera do Chile.
Um estio que neste onze campeão sul-americano se personifica no jogo dengoso de Sornoza (29 anos, nº 10 desde a faixa) a segurar a bola, quase parecendo jogar em câmara lenta, mas sempre no local certo para executar o passe ou guardar a bola. Com Pellerano, 40 anos, como trinco de cabelo e barba branca, solta um "8" rompedor com passe (Faraveli) a servir o ataque onde está um nº 9 argentino levezinho a desmarcar-se, Lautaro Diaz, a seta de um 3x4x3 a atacar mas que defende em 5x4x1 para segurar-se.
3 A seleção encetou esse mesmo projeto de crescimento através dum estilo na mesma altura. No Mundial 2006, tinha no "El huevo" Aguinaga, médio baixote criativo com golo, como figura dum onze que, depois, através das épocas, foi-se renovando. Mesmo não gerando grandes craques internacionais (Valência, no Manchester United, terá sido o maior) gerou um coletivo com identidade, feito de jogadores que sabem bem como têm de jogar e criados dentro dessa filosofia de inspiração mais tecnicista de passe brasileiro do que na picardia latino-americana.
O futebol atraente a nível de troca de bola que hoje joga a seleção (com cultura de posse) choca, por vezes, com pouco remate e golo. Falta, neste plano estilístico de cruzamento, trabalhar agora em especificidade algumas posições, como a de ponta-de-lança.
Hoje, ainda é Enner Valência, 33 anos, no Fenerbahçe, a principal referencia como nº 9, enquanto Michael Estrada, do Cruz Azul do México cresce de estatuto como ponta-de-lança astuto a jogar entre centrais, aparecendo bem em zonas em finalização mas... custa-lhe muito (como a toda a equipa...) o golo.
Num dos últimos particulares, o treinador Alfaro, frente a Arábia Saudita e Japão, juntou os dois algum tempo em 4x4x2 mas mesmo assim o golo não apareceu (acabou 0-0) apesar de gerar muito jogo atrás.
4 Nesse "jogo associativo", o sistema preferencial é o 4x3x3 (com o central canhoto Hincapié, 20 anos, a confirmar-se como craque) estão bons médios de pressão e posse, como Mendez mais construtor, ou Gruezo, mais recuperador, pilares a nº. 6 junto ao pilar Caicedo, um nº. 8 médio completo, a agarrarem o setor para controlar jogo e bola e apoiarem ao ataque onde os extremos são a principal fonte de perigo, com Ibarra, La Plata, Mena ou Angulo (junto dos laterais, Preciado e Estupinan, projetados a atacar). Falta o ultimo elo com o golo. O goleador que o Equador procura como teve, em tempos remotos, no "El Gato" Spencer dos anos 60.
O Independiente del Valle foi, ironicamente, fundado na mesma época, em 1958, e hoje, no novo milénio, emerge como o novo grande símbolo do reinventado futebol do Equador, Nada acontece por acaso. Acredito nisso.