PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 Terão sido quase 80 metros dos 105 que vão duma baliza à outra. Na última jogada em que, após um canto, a equipa do Benfica subira toda, a bola foi cortada/aliviada (por Pepe, claro) e, de repente, Pepê viu quase todo o relvado da Luz para correr. Foi um maratona com bola em menos de 10 segundos até, no instante certo, levantar a cabeça e fazer o passe que o outro "sprinter"(sem bola), Zaidu, finalizou com uma técnica feita ironia futebolística a todas as análises sobre o seu futebol tão disfuncional como imprevisível (em tudo).
Antes, teriam sido só 2 centímetros a decompor como uma rã num laboratório (a "tese dos frames") aquele passe longo que Darwin transformaria num gesto de técnica, coordenação em espaço curto e remate, no tal golo do orgulho.
O jogo não foi, porém, esta mera contagem de centímetros ou metros. Foi a certeza de que, neste fim de época, o abismo entre as duas equipas abriu uma clivagem impensável no início. Sei das lesões que condicionaram o onze benfiquista, mas chegar a este ponto com Gil Dias e Lázaro (ambos visto na origem como laterais alternativos) a extremos titulares, dizia muito onde chegara a (de)composição da equipa e sua potencial qualidade dentro duma ideia de jogo em que os esticões de técnica de Taarabt nunca tiveram quem o entendesse à frente porque não existia terceira linha do meio-campo.
2 O jogador em que Darwin se tornou (e pressentia estar dentro dele desde que chegou) foi como ver a natural evolução do jogador desde a sua natureza atlética (com que nasce) até à sua utilização cruzada com fundamentos de jogo (que aprendeu entretanto). É ponta-de-lança acima da equipa. Sozinho, destapou Pepe e Mbemba. Desapareceu do jogo quando Veríssimo, na ânsia primária de meter mais avançados (Seferovic e Yaremchuk) para atacar melhor, o puxou para a faixa esquerda. Desapareceu assim do centro do ataque e, consequentemente, do jogo mais perigoso até esfumar-se em campo. Uma alteração posicional anti-tática que, com aquela opção, desfez o ataque mais perigoso do Benfica.
3 O FC Porto até teve, nessa altura, a preocupação de bascular mais a sua organização defensiva de coberturas para esse lado. Um gesto tático que revela como Conceição abordou este jogo do (seu) título como um objeto de estudo da transição e organização defensiva para lançar depois o ataque pelos locais mais perigosos. Viveu taticamente mais pelo primeiro momento (não se quis expor com a memória da raiz da derrota em Braga) e soube esperar o segundo momento para, garantida a eficácia do primeiro, ganhar o jogo. Assim foi, no último lance.
Do Jamor a Arouca
A última luta será pelo lugar "play-off". Três equipas: Tondela, Moreirense e o Belenenses, a lanterna que deixou fugir a possibilidade de provocar uma final com o Arouca no último jogo. A forma como não soube, a ganhar, gerir o jogo contra o Famalicão, baixando o bloco quase renunciando a ter a bola, condenou a equipa a defender quase pendurada na baliza até se despenhar para dentro dela com bola e tudo (sofrendo, assim, dois golos).
Salvou-se o Arouca mesmo perdendo, jogando bem, em Braga. Durante todo o jogo, elogiei uma opção que Evangelista frisou no fim: o recuo de Arsénio, extremo, para cobrir defensivamente à esquerda (fazendo linha de 5). A sua saída ao minuto 85 abriu ali uma fenda que o Braga (bem Falé a cruzar) aproveitou e criou o golo. Admito o desgaste físico, mas fico a pensar: não dava para aguentar mais cinco minutos?
Continuo a achar que as cinco substituições, na maioria dos casos, confundem mais os treinadores (que não querem perder essa possibilidade) do que os ajudam. Só com as três (já feitas então) não teria perdido assim. Faz pensar. Não tanto pelo Arouca (que, na época, sobretudo após juntar Simão e Ruiz a meio-campo, mostrou sempre boa ideia de jogo) mas por todo esse mundo taticamente anti-racional das cinco substituições.