HÁ BOLA EM MARTE - Um artigo de opinião de Gil Nunes.
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O atual Sporting não é demolidor mas também não joga mal.
É claro que em situações deste género - maus resultados - a tendência é ver o copo meio vazio. Mas há o lado do cheio: o leão perdeu por duas vezes frente a um FC Porto que é superior mas deu luta, e empatou diante de um Midtjylland que está perfeitamente ao seu alcance.
Enquanto isso dá a conhecer um ramalhete de excelentes jogadores jovens - com Chermiti e Diomande à cabeça - que provam que tudo está a ser pensado a longo prazo.
É claro que tanta juventude traz ansiedade e aquela tendência para, no momento da aflição, enveredar pelo passe prudente e certinho ("Não foi o passe ideal mas ao menos não levo na cabeça"). E também existe o contexto tático: mais do que a questão de não jogar sempre com três defesas, interessa é dar a conhecer outro desenho, nem que seja apenas de vez em quando e programado para causar a dúvida no treinador contrário. Pontas soltas para afinar e nunca calamidades. Porque basta o primeiro jogo em "on" e depois tudo pode ser abundante como o ketchup acabado de abrir.
3 Adán: realmente...
Frente ao Midtjylland, mais um erro comprometedor do guarda-redes espanhol que tem tido uma temporada muito periclitante. E a questão nem é a do passe ter saído mal. Isso acontece. O problema é que Adán, descaído para o flanco esquerdo, tomou mesmo a opção de colocar a bola no centro do terreno, completamente à mercê daquilo que aconteceu. Por muito que o técnico tente defendê-lo com a grande defesa que efetuou minutos antes, certo é que nada compensa uma asneirada de todo o tamanho. Seja como for, com o Midtjylland em pressão alta e a causar problemas, provou-se que o Sporting está muito dependente do seu central mais hábil na construção: Gonçalo Inácio.
8 João Mário: em alta
As grandes penalidades bem marcadas são aquelas que entram mas também são aquelas que são bem pensadas. E falar de pensamento é falar de João Mário: todas as ações que executa são caracterizadas pelo método e nunca pelo impulso. Na Bélgica foi o barómetro da equipa: inteligente na recuperação e estancamento das linhas de ação adversárias, sobressaiu aos 30" na sequência de uma bola parada, quando colocou Rafa na cara do golo. Nesta temporada mais chamado a zonas de finalização, o seu desempenho tem sido pautado por golos mas, acima de tudo, por um atributo bem mais importante: a regularidade. Mesmo nos momentos mais cinzentos, não tem havido um "mau" João Mário.
7 Kiki Afonso: recompensa merecida
Garantiu o empate do Vizela em Barcelos na sequência de uma bola parada, onde fez uso do corpo para finalizar de forma certeira. São pormenores que revelam maturidade de um jogador que adquiriu estabilidade de carreira no Vizela e onde a sua capacidade de cruzamento longo tem valido clarividência ofensiva e também alguns golos. Kiki Afonso, que chegou a pontificar nas camadas jovens do FC Porto como médio, adquiriu consistência de jogo e disciplina defensiva que o transformaram num lateral "certinho" e, sobretudo, muito fiável. Excelente temporada, continua a ser um dos destaques de um Vizela mais "reativo" mas que continua a praticar bom futebol.
Chermiti: tardou mas chegou
Porque não é só Sérgio Conceição a reconhecer em Chermiti qualidades excecionais: velocidade, finalização com ambos os pés e a cabeça, e astúcia na busca de espaços. A questão é que um diamante destes deve estar blindado antes de ser lançado na equipa principal. A renovação lá chegou. Tarde. Podia ter corrido mal.