Carvalhal, um património a preservar sempre
PASSE DE LETRA - Uma opinião de Miguel Pedro
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As coisas resolveram-se bem rápido, evitando a disseminação de boatos, discussões e mal-entendidos: na segunda-feira, Carvalhal e Salvador anunciaram, num vídeo partilhado nos canais de comunicação do clube, de forma pacífica e amistosa, o fim da ligação do treinador ao SC Braga. Ligação laboral, entenda-se, pois a sua ligação ao clube e à cidade será eterna e é um "património" que deve ser, sempre que possível, capitalizado.
E logo na quarta-feira, o SC Braga anunciou o novo treinador: Artur Jorge, que é, desde então, o melhor treinador de todos. Carvalhal é um dos 28 treinadores que também foram jogadores do clube. Foi, como se sabe, treinador do SC Braga em 2006/07 (apenas em 13 jogos) e nas duas últimas épocas (104 jogos). Orientou, assim, o SC Braga em 117 jogos (77 Liga, 10 Taça Portugal, 5 Taça Liga, 24 provas UEFA, 1 Supertaça), sendo o 5.º treinador do clube com mais presenças no banco. No total, alcançou 64 vitórias, 22 empates, 30 derrotas e 196-126 nos golos. É o treinador que ostenta os seguintes recordes em provas UEFA: presenças (3), jogos (24), vitórias (12), golos marcados (41), golos sofridos (34). O momento mais relevante desta passagem foi a conquista da terceira Taça de Portugal do clube, depois de eliminar o FC Porto e o Benfica. Carvalhal atingiu ainda mais duas finais, conseguiu excelentes prestações na Liga Europa e dois quartos lugares. Deixa gravado o seu nome nas páginas mais bonitas da história do nosso clube.
Mas como o futebol não se resume à estatística, Carvalhal deixa três legados importantes que devem servir de exemplo. Em primeiro, deu a oportunidade a vários miúdos de se estrearem na 1.ª equipa, abrindo assim a porta da maioridade futebolística a muitos deles. Veremos seguramente vários destes jovens jogadores a construir carreiras de sucesso no futebol nacional. Em segundo, fez a melhor ponta final (i.e., os últimos oito jogos) do SC Braga na história do campeonato, com 6V-1E-1D, igualando os registos de 1983/84 e 2009/10.
A ambição e o mindset competitivo que Carvalhal impôs à equipa, mesmo com os objetivos principais alcançados, precisam de ser a normalidade e não a exceção. Finalmente, mostrou a todos aquilo que deveria ser o comportamento dos agentes ligados ao futebol: educação, respeito pelos outros, gosto pelo jogo positivo, humildade, trabalho, confiança, conhecimento. O futebol português seria muito mais interessante se tivéssemos mais pessoas da índole do Carvalhal.