Benfica tem um gravíssimo problema: quando tropeça, a equipa não cai, estatela-se
A JOGAR FORA - Opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - Haja alguém que me responda a esta questão: porque é que o Benfica não consegue pressionar, sufocar e golear o Estoril, o Vizela, o Trofense ou o Portimonense, ou todos eles de enfiada, da mesma forma como o Bayern pressiona, sufoca e goleia o Benfica?
2 - A formação do Benfica está ao nível do melhor que se faz no planeta - três finais em sete edições da Youth League são apenas uma das inúmeras alegações a que posso deitar a mão. Admitindo que o projeto do futebol do clube tem na formação um dos seus pilares - e não se vê como possa não ter -, avanço mais um caso de estudo: Tomás Araújo, jovem central encarnado (19 anos), tem 44 internacionalizações nas seleções jovens, ao passo que Gonçalo Inácio (20 anos) não passa das 12. O central leonino está às portas da seleção A; enquanto isso, quantas oportunidades foram dadas a Tomás Araújo?
3 -O Benfica tem um grave, ou melhor, o Benfica tem um gravíssimo problema: quando tropeça, a equipa não cai, a equipa estatela-se - sem reagir à altura, sem deixar a pele em campo, sem fazer por merecer o aplauso reconhecido da bancada. O problema está para além da qualidade dos treinadores ou do valor dos jogadores, e também não tem a ver com tática ou técnica - é uma questão de mentalidade competitiva. Dá ideia de que se instalou no clube uma cultura de aburguesado comodismo, de gente paga a peso de ouro que se comporta como pica-pontos. Sem que estejam impregnados de ambição e honra em vestir o "manto sagrado", comprometidos com uma entrega total em prol dos objetivos comuns, sem que faça ininterruptamente sentido a máxima "E Pluribuns Unum", não iremos lá.
4 - Só vale a pena jogar a Champions se por lá se andar de corpo (e espírito) inteiro. Só podemos ambicionar "mais noites destas", como referiu Rui Costa depois dos 3-0 ao Barcelona, se não priorizarmos entre Liga e Champions, se não rodarmos jogadores em função disto e daquilo, se não formos lá para dentro com a humilhante assunção antecipada da derrota. Na noite de terça-feira, se alguém se podia permitir a poupar titulares era o Bayern - é mais forte e o apuramento estava-lhe à distância de um pequeno passo. Acabados de ser goleados, jamais se podia ouvir da boca de Jorge Jesus que havia "coisas boas a retirar da partida", nomeadamente "alguns jogadores menos utilizados" que tinham dado "boas indicações". Não admira, por isso, que houvesse depois quem (sem vergonha de ter encaixado cinco golos) orgulhosamente fizesse correr nas redes sociais a inclusão de Vlachodimos na equipa da semana da Champions.
5 - Nós, os apaixonados adeptos dos clubes, somos bipolares: bastam-nos dois ou três resultados negativos para passarmos de um estado de desenfreada euforia para outro de profunda depressão. Vá que o caminho inverso é curto por igual: duas ou três vitórias são o suficiente para voltarmos a um novo ponto alto desta montanha-russa de sentimentos antagónicos. O Braga é um adversário difícil o suficiente para que, ganhando, e ganhando bem, iniciemos um novo caminho rumo ao otimismo. Vamos lá encher a "Catedral" e fazer o que tão bem temos feito desde o regresso aos estádios: apoiar, apoiar, apoiar!