Benfica: estas exibições e resultados matam qualquer dinâmica de campeão
A JOGAR FORA - Um artigo de opinião de Jaime Cancella de Abreu.
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1 Depois de uma bem-sucedida rotatividade no início da época, o Benfica apresentou-se frente a Portimonense e Vizela praticamente com o mesmo onze que tinha disputado os desgastantes jogos com Barcelona e Bayern - e viu-se de aflitos em ambos os casos.
Jorge Jesus saberá melhor do que ninguém - e do que eu de certeza! - a melhor forma de fazer a gestão de um vasto plantel de 28 jogadores, 12 vezes mais valioso que o do Portimonense e 23 que o do Vizela.
Defendo há muito que o clube deve ter um plantel com não mais de 22 jogadores, sendo os restantes recrutados pontualmente na equipa B. E deixo este exemplo: quando, fustigado por lesões no centro da defesa, Rui Vitória pediu à SAD que fosse ao mercado reforçar-se com um central, foi-lhe sugerido que escolhesse entre os que estavam à sua disposição na equipa B. Decidiu-se por Rúben Dias - o resto da história o leitor conhece.
2 O jogo com o Estoril foi o primeiro de três de elevadíssimo grau de dificuldade a disputar pelo Benfica no prazo de oito dias. Começar com uma vitória na Amoreira era fundamental para receber o Braga na liderança da Liga e para apontar ao final de um ciclo de exibições e/ou resultados menos conseguidos - praticamente desde que despachámos o Barcelona por claros três a zero. Marcando na entrada do jogo - de canto, coisa raríssima! -, o Benfica entregou-se desde logo, e ao longo de toda a primeira parte, ao controlo do jogo, à circulação da bola, ao jogo lateralizado, nunca apostando nas indispensáveis acelerações, nunca forçando as transições mais verticais, enfim, sem o instinto assassino que colocasse um ponto final na partida.
Assim, fomos para o intervalo com o jogo em aberto, apenas com um golo à maior. E como foi a segunda parte? O leitor deve ter visto na televisão o que eu vi nas bancadas do António Coimbra da Mota: controlo do jogo, circulação da bola, jogo lateralizado, nunca apostando nas indispensáveis acelerações, nunca forçando as transições mais verticais, enfim, sem o coletivo instinto assassino para colocar um ponto final na partida. O resultado? Toda a equipa que faz gestão de uma vantagem mínima perante adversários de menor valia merece castigo. O Benfica mais que mereceu o castigo. Tomem nota: são estas atitudes, exibições e resultados que matam qualquer dinâmica de campeão.
3 Penálti não marcado em Vizela sobre Lucas Veríssimo, penálti não marcado em Guimarães sobre Gonçalo Ramos, e eis um oportuno ponto de situação sobre a decisão dos árbitros que mais influencia o dramático destino de um jogo: em 43 jornadas (34 de 2020/21 mais 9 desta), o FC Porto beneficiou de 17 penáltis (um por cada 5,6 golos marcados), o Sporting de 12 (um por cada 6,6) e o Benfica de 2 (um por cada 44,5). Considerando que o Benfica está ao nível dos seus rivais, quando não melhor do que eles, nos rankings dos ataques, dos remates e das oportunidades claras, tire o leitor as suas conclusões. Eu já tirei as minhas.
4 Marco Cruz para Alvalade e 11 milhões para lá, Rodrigo Fernandes para o Dragão e 11 milhões para cá - assim se mascaram contas para encobrir o depauperado estado em que elas se encontram. Porém, o mais misterioso desta inflacionadíssima troca contabilística de anónimos jovens jogadores é descortinar como é que ela permitiu "não vender jogadores titulares como Palhinha, Matheus Nunes ou Pedro Gonçalves", conforme explicou o diretor de comunicação do Sporting.