A JOGAR FORA - Jaime Cancella de Abreu
Corpo do artigo
1 - Não sei o que vai valer no futuro este FC Porto, que, até aqui, só tem conseguido ganhar a equipas de nível inferior nos descontos, em esforço, sem brilho, pela margem mínima. O que o vi fazer na Luz foi do mais fraco de que tenho memória: sem jogadores de classe, sobra-lhe a entrega e a agressividade tradicionais.
Um Benfica ao seu melhor nível teria provavelmente goleado e, de caminho, mandado o FC Porto para o divã do psiquiatra
Sérgio Conceição quis jogar o jogo pelo jogo e, não fosse a benevolência de João Pinheiro, teria acabado a primeira parte com nove jogadores, dada a forma como o Benfica estava a explorar o espaço nas costas da sua linha defensiva. Para a segunda parte o treinador azul e branco emendou a mão, recuou linhas e acantonou a equipa junto à sua baliza: seria fantástico, quase heroico, sair da Luz com um ponto. Não conseguiu, mas, segundo o próprio, ganhou muito mais do que perdeu. Curiosamente, nós também.
2 - Um Benfica ao seu melhor nível - que ainda não apareceu a tempo inteiro esta época - teria provavelmente goleado e, de caminho, mandado o FC Porto para o divã do psiquiatra. Ficámos, não obstante, com o essencial: os três pontos! Trubin esteve exemplarmente eficaz no pouco trabalho que lhe deram; Otamendi, um enorme exemplo de capitão, comandou uma defesa que não cometeu, desta vez, erros não forçados e, assim, ficou a zero; João Neves teima em confirmar, jogo após jogo, um futebol que enche o campo e as medidas a todos nós; Neres e Di María, contra a opinião dos especialistas, provaram que podem jogar juntos, mas preciso destacar Di María - e explico porquê: o "velho" que veio reformar-se, que ia ter dificuldade em descer a montanha, o homem que perde na comparação com Galeno e, coitado, dizem, só marca golos de bola parada, vai-se, afinal, safando e marcando até golos de bola corrida que decidem jogos no "salão de festas"!
3 - Só alguém muito habituado a encontrar desculpas alheias para derrotas próprias pode comparar o lance de Fábio Cardoso com Neres, que valeu a inevitável expulsão do central portista, com o de Trubin com Taremi, que, a ser sancionado, configuraria mais um escândalo à altura de muitos a que já assistimos desde que o avançado iraniano chegou ao Dragão.
4 - Sobre a vantagem de jogar com mais um, lembro a afirmação de Conceição, no final do empate caseiro a um com o Gil Vicente, que teve um jogador expulso com vermelho direto aos 3 minutos (época 21-22): "A expulsão no Gil Vicente foi o pior que nos podia ter acontecido."
5 - Domingos Soares de Oliveira foi a peça mais importante e decisiva na modernização e profissionalização em boa hora levada a cabo na estrutura empresarial do Benfica. O ciclo fechou-se, agora, com a sobriedade que marcou a quase totalidade da sua passagem pelo clube. Que o Benfica saiba reinventar-se e lançar objetivos ousados para o novo ciclo que aí vem. Obrigado e boa sorte, Domingos!