A JOGAR FORA - Opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - Esteve bem quem decidiu difundir a entrevista de Rui Costa em canal aberto. Espero que a BTV repita a estratégia como forma de oferecer a todos nós alternativas ao lixo tóxico que sobre o clube é diariamente produzido em alguns canais - precisa, todavia, de melhorar muito a programação para que uma aposta deste tipo possa alguma vez surtir efeito.
2 - Sou, confesso, um benfiquista dos básicos, daqueles para quem o sucesso da equipa de futebol é o quase tudo da sua felicidade de adepto. E como os estatutos não marcam golos e as auditorias não ganham campeonatos, deixo estas importantes questões para aqueles que fazem o favor de as pensar e debater por mim - eu quero é o futebol na ordem: a lutar, a dar espetáculo, a ganhar! Contudo, chegados a dezembro com a equipa a sete pontos da liderança (hoje provavelmente estará a nove), arredada da Taça de Portugal, com um treinador chicoteado e a grossa parte das contratações a redundarem num erro de casting, custou-me entender tanto elogio de Rui Costa à estrutura responsável por este depauperado estado do nosso futebol. Depois, apontou ainda falta de mentalidade competitiva às modalidades - mas não o fez em relação à equipa de futebol, por sinal o pior e o mais acabado dos exemplos do conformismo competitivo que alastra pelo clube.
3 - Quem julgava que o problema estava centrado apenas em Jorge Jesus já deve ter concluído que se encontrava redondamente enganado: novo treinador, nova tática, a mesma atitude, a mesma (ou ainda pior) incapacidade para derrotar equipas que só querem defender, as mesmas desilusões e frustrações. Para ajudar à festa, não faltou, ontem, uma equipa de arbitragem com decisões que nos foram todas duvidosa e vergonhosamente contrárias e um Moreirense apostado em colocar Portugal ainda mais na cauda europeia da média de tempo útil de jogo. Coitados dos que, como eu, pagam para ver espetáculos deste calibre.
4 - Desde que veio a Lisboa dar a cara pelo interesse em adquirir 25% da SAD encarnada, John Textor investiu já cerca de 200 milhões de euros no Crystal Palace, no Botafogo e num clube da segunda divisão belga. Em vez de procurarem entender o projeto global de Textor e como ele pode, ou não, aportar-nos significativas mais-valias, há benfiquistas que têm como preocupação única descredibilizá-lo - só porque teve contratualizada a compra da posição acionista de Santos e Vieira - ou classificá-lo como um desconhecido paraquedista - como se fosse difícil investigar na Internet os seus feitos de empresário bem-sucedido. Seria preferível que estes benfiquistas adotassem, também eles, uma nova atitude na forma como olham o clube - com isso evitando o ruído que tanto faz as delícias dos nossos rivais.
5 - Foi em março de 2010 que o Benfica recebeu um Braga que connosco lutava palmo a palmo pelo mais histórico feito da sua existência - o inédito título de campeão. Dirigidos por Domingos Paciência - esse incorrigível benfiquista! -, fizeram a vida negra ao Benfica, que venceu dificilmente por 1-0 (tínhamos perdido por 2-0 na Pedreira, certamente beneficiados pelas preciosas facilidades concedidas pelos minhotos). Doze anos passados, no dia seguinte ao debate de todos os debates e com a pandemia a atingir números recorde de infetados, a notícia de que o "fisco (leu bem, o fisco) suspeita que Braga facilitou vitória do Benfica" foi o melhor que o Expresso arranjou para destaque maior da sua primeira página. É bem verdade que o semanário fundado por Pinto Balsemão já viveu melhores dias enquanto publicação de referência - mas precisava descer tão baixo?