PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
Corpo do artigo
1 - Como se mede o tamanho de um guarda-redes? Como se contam os quilómetros que um jogador corre em campo a... jogar? São duas repostas impossíveis de dar contando apenas altura e números. São respostas que se descobrem pela forma como um e outro crescem no jogo acima dele. Diogo Costa e Otávio voaram e passearam em Brugge através da defesas alucinantes (o penálti, como um muro) e passes científicos.
A inversão da equação "0-4" teve, de início, a tal base da subida de nível de pressão portista em não deixar o adversário sair a jogar, encostando-o atrás. Esse fator decisivo na fórmula competitiva Conceição, que faltara no Dragão, explodiu na Bélgica. Como é possível esta transformação de comportamento futebolístico? Além da mensagem do treinador (apelo ao orgulho e reforçar da agressividade dos princípios de jogo da equipa), o regresso em plano do grande operador de sistemas: Otávio.
Este FC Porto (contorcionista de 4x4x2 e 4x3x3) está programado para ter um jogador como ele. Sente um "bug" sem ele. Funciona na perfeição com ele. As equipas podem ter os seus modelos afinados mas há sempre jogadores que vão além deles e provocam estas explosões de futebol.
2 - É impossível não sentir o mesmo quando se vê a velocidade sincronizada que parece confundir jogador e bola num só elemento. Aquela corrida de Rafa, atravessando todo o relvado da Luz a voar baixinho pelo meio da equipa da Juventus (que só sentia o vento dele a passar) é um desses caso que concentram todo o futebol num corpo de 1,72 m com uma barbicha. O remate ter acabado no poste foi apenas um pormenor que deu até maiores efeitos especiais ao lance.
Este Benfica (maleável nas variantes das posições do 4x4x2) está ofensivamente mais programado a nível de cérebro do arranca, simula, olha, passa de David Neres, mas é quando Rafa monta o seu parque de diversões como segundo avançado que dinamita o seu melhor futebol. O centro do processo está, porém, no meio-campo.
3 - O nariz no ar insolente do "soneca" Ewards em Londres, colocou o Sporting por cima do jogo mas a parte final (longos últimos quinze minutos) meteu a equipa demasiado atrás, procurando resistir quase agarrada à sua baliza. Ao perder o controlo, e até o contacto, com a bola, a equipa jogou nesse precipício demasiado tempo naquele ambiente de jogo. Amorim tentou manter vivo o contra-ataque mas a equipa já não conseguia pensar.
As quebras de Nuno Santos, Morita (estes saíram mesmo) e Edwards deixaram o onze sem conseguir sair e fisicamente nos limites. Salvar um ponto (com o dramático suspense-VAR do último suspiro) foi um sucesso quando Amorim já nem conseguia, há bastante tempo, sequer olhar para o relvado. Ficara, nesses longos minutos de cruzamentos do Tottenham, pura e simplesmente, dependente da vontade da... bola!
Subiram defesas, subiu a pressão!
Há um fator muito importante na melhoria da capacidade de pressão do FC Porto. Foi a afinação e a subida sincronizada no terreno da dupla de centrais Fábio Cardoso/David Carmo, de início receosos e hesitantes em darem esses passos em frente (ficando, por vezes, demasiado baixos) e agora firmes a subir esses metros junto com a linha de 4. Crescendo a defesa esses metros no relvado e no jogo, toda a equipa e sua capacidade de pressão alta (onde já está o bloco mais subido por natureza no relvado) cresce de intensidade. O bom início contra o Benfica, como o jogo de Brugge, teve essa raiz da ideia do pressionar para jogar... em cima do adversário (fazendo o bloco deste recuar), sem o deixar respirar sossegado.
Não foi, portanto, Eustáquio ter-se transformado numa máquina de pressão (ele terá sempre mais atributos de distribuição), nem os médios preferenciais deste FC Porto têm essa natureza. Diferente dos exemplares do meio-campo benfiquista em que Florentino (com "upgrade"), Enzo e Aursnes (a confirmar o que é como n.º 8 multifunções) nasceram para viver a pressionar. E, no jogo, fazem-no como respiram. Por isso, ao contrário do onze portista, não necessita que a sua defesa (centrais) jogue tão subida de raiz para pressionar bem em zonas mais altas.