PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Um artigo de opinião de José João Torrinha.
Corpo do artigo
Em semana de seleções, torna-se mais complicado arranjar assunto. Ainda assim, esta semana aconteceu algo a esse nível que vale a pena comentar.
E não, não me estou a referir à estreia de Roberto Martínez, nem tão pouco ao novo sistema tático da Seleção, e muito menos ao jogo, que foi uma espécie de treino de conjunto assistido por 40 mil pessoas.
Prefiro falar dos assobios com que foi brindado João Mário de cada vez que tocava na bola. A atitude imbecil de alguns adeptos que se encontravam nas bancadas é mais um fruto do ambiente tóxico que se vive entre os três estarolas do futebol português. Um ambiente em que antes de tudo se olha para o próprio emblema, e só depois para as cinco quinas que os jogadores ostentam ao peito.
Na verdade, os olhos com que um adepto dos ditos três olha para a Seleção são muito diferentes dos nossos, os adeptos dos outros clubes. Assim como diferentes são os olhos dos selecionadores quando olham para os jogadores dos nossos clubes. Enquanto que noutros países é normalíssimo jogadores dos emblemas menos titulados representarem a seleção, em Portugal é preciso que um jogador desses faça o pino para que o selecionador repare nele. E quando calham de mudar para um dos três, a convocatória tende a aparecer num ápice.
Por isso, quando o milagre acontece e um jogador do Vitória é convocado para a seleção, os vitorianos preferem focar-se no orgulho que é ter um dos nossos a representar a equipa de todos nós, do que a escrutinar a convocatória à procura de quem são os clubes dos outros convocados.
Já muitos dos adeptos dos ditos clubes do regime preferem fazer contas e ver quem tem mais convocados; desfiar o rol de queixas dos jogadores A, B e C do seu clube que não foram convocados; delinear teorias da conspiração segundo as quais o selecionador ou a Federação os querem prejudicar e alguns acabam mesmo a fazer as tais figuras tristes de assobiar um jogador que cometeu o crime de lesa-majestade que foi decidir envergar a camisola de outro emblema.
Pela parte que me toca, prefiro focar-me nossos jovens vitorianos, alguns dos quais foram convocados para a Seleção de Sub-21 e acreditar que eles e outros que lá poderiam estar vão continuar a evoluir para um dia poderem contribuir para a extinção do estigma que prejudica clubes como o Vitória.