PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 Vejo, logo na semana seguinte a acabar a época, tantos treinadores que saltam ou estão na dúvida, e questiono o que envolve a construção de uma equipa pensando na relação ideia de jogo-jogadores.
O que pretendem, afinal, os clubes quando contratam um treinador? E o que os leva a mudar?
Gosto do futebol associativo, de troca de bola no pé, jogo posicional criando linhas de passe e, claro, criatividade, mas sei que para jogar bem dessa forma são necessários jogadores com talento e técnica.
O princípio para tal seria a relação com a bola, mas só isso não chega. Porque este não é um jogo individual. É coletivo. E, por isso, a técnica nunca poderá existir só no vazio. Necessita de perceber de tática para mover-se e aplicar essa técnica nos locais certos. É, depois da relação com a bola, a relação com o jogo!
As grandes equipas são feitas desta matéria. Não sendo possível levar o jogo para este patamar de controlo tático-técnico (esta ordem não é arbitrária) existe o chamado "direito tático" das equipas pequenas jogar na expectativa, marcando mais atrás (obrigadas a viver a maior parte do tempo em organização defensiva, têm, obviamente de ser mais competentes nele) e preparar muito bem os contra-ataque que apareçam.
2 É bonito dizer que se é uma equipa que "gosta de ter a bola" mas depois o adversário (mais forte) chega-a e rouba-a para ele (a bola e a ideia), obrigando a ter que se jogar... outro jogo. Um outro jogo mais pela estratégia, menos pela filosofia pretendida.
Todos os treinadores são confrontados com esta realidade a certo ponto das suas carreiras ou, pensando na equipa que dirigem (mesmo as grandes), no decorrer da época. Basta pensar os nossos grandes quando chegam longe nas competições europeias. A bola deixa de ser propriedade privada como é em quase todos jogos (exceto confrontos entre eles) das competições internas.
3 É por esta ordem de raciocínio que olho o nosso campeonato, e tenho a sensação clara que os jogadores estão piores e as equipas estão melhores (em termos de organização, com os seus naturais limites explicados). A diferença entre o "top 4" para o quinto classificado é de 20 pontos! Não há milagres. O futebol é disciplina tática e improvisação. O Arouca, tão elogiado exatamente por esses dois fatores, é a equipa que encabeça esse outro campeonato pós-fosso dos 20 pontos. A partir daí uma escada descendente até a cave onde três equipas esbracejaram para estar com o nariz fora da linha da água (e chegar uma ao purgatório do play-off).
Em geral, os clubes começam por pedir o impossível para depois ficarem conformados com o possível e voltarem a pegar tudo do início sem a perceção clara da realidade no sentido da matéria-prima que verdadeiramente faz uma boa equipa de futebol na nossa classe média.
Como afinal se joga em Portugal?
Apesar da vontade que se pressente, as nossas equipas médias pressionam pouco e o traço geral identitário do treinador português dentro do nosso campeonato fora do "top-4" é essencialmente científico ou pragmático. Ou seja, tem um estudo profundo sobre cada jogo e adversário, disseca todos os fatores, previstos e imponderáveis. A vontade de criar a identidade é um princípio que tem depois de adaptar-se à realidade. Da sua equipa e correlação de forças com as outras.
Olhando várias equipas do campeonato findo, Campelos conseguiu no Chaves das melhores uniões entre jogadores de estilos diferentes que souberam complementar-se no onze. Repare-se na junção de um trinco clássico, com médios-interiores criativos João Teixeira-João Mendes, ambos de futebol associativo para soltarem avançados rápidos. A equipa que cresceu mais na época em termos de qualidade de jogo foi o Famalicão. Ao pegar na equipa, João Pedro Sousa refez um estilo de jogo baseando a solidez do duplo-pivô com a criatividade de passe ou finta de médios-avançados soltos (Ivan Jaime-Ivo Rodrigues). É dos treinadores que, ganhando ou perdendo, tem criado mais uma identidade com posicionamentos firmes no onze. O segredo: o passe envolve o adversário. Nas próximas colunas, seguirei mais equipas.