PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - Quando arranca com a bola sinto que vai desafiar o pré-estabelecido. Álvaro Djaló é travessura de futebol de rua. Bastou receber a bola para logo a ginga soltar-se, abrir as latas de tantas defesas, marcar e dar vontade de continuar a ver o jogo. Nada disto surpreende. Confesso que esperava até que já tivesse jogado mais vezes neste belo Braga que, assim, ganhou ao Malmo mas caiu da Liga Europa.
Um estranho sentimento, porém, de que este fracasso possa ser o início dum sucesso atravessou a atmosfera e até Artur Jorge surgiu sorridente no fim. É a perspetiva de que na Conference League, terceira linha europeia, o Braga possa ambicionar até ganhar. Um sentimento que se baseia na perspetiva certa da dimensão europeia do futebol português. Nunca nenhuma equipa nossa esteve nesta fase (nem sequer na de grupos) desta Liga 3 europeia, a mesma na qual os holandeses na época passada somaram, com AZ, Vitesse e PSV, os pontos para se manterem à nossa frente no ranking europeu.
2 - É, por isso, um ranking cheio de mentiras mal contadas (ou bem, pela forma como são divulgadas). O futebol português é, por natureza, forte na sua macrocefalia dos três grandes (sempre fortes na Europa e esta época a meterem-se todos na Champions), criou este Braga forte nos últimos anos, mas a partir daí não tem a tal classe média competitiva capaz de gerar uma "quinta equipa europeia", algo em que os holandeses são fortes (já não têm ninguém na Champions, de onde caiu o único clube, o Ajax, mas que vai agora somar pontos na Liga Europa, onde estão PSV e Feyenoord, finalista na época passada da Liga Conferência, onde está o AZ). Não ganham tanto dinheiro, mas fazem mais pontos.
Posto assim o confronto, qual o futebol de clubes mais forte? O português ou o holandês? A resposta não é pacífica mas, para subir no ranking desta forma, não trocava de lugar com os holandeses. O sétimo país do ranking (Portugal) tem, na elite onde se joga o mais forte futebol do mundo, melhores equipas do que o sexto (Holanda).
3 - Esta conclusão não choca, porém, com o problema competitivo interno de fundo de que sofre o nosso futebol: o poder dos clubes da classe média, disfarçado no campeonato em raros jogos com os grandes mas demasiado evidente nas assimetrias da classificação e nos relvados europeus, que a este nível só pisamos nas pré-eliminatórias.
Ou seja, o topo da pirâmide vive sobredimensionado e feliz mas, por aí abaixo, as suas bases são uma ilusão que só esporádicos 90 minutos disfarçam mas que o disfuncional ranking europeu expõe.
A nossa missão: encontrar um equilíbrio subindo o nível desde baixo. Um trabalho que cruza política desportiva dos clubes com as suas dimensões sociais mais fontes de receitas e sua utilização. Não esperem cantos de sereias de milagres televisivos.
Para quem falam os treinadores
Os treinadores quando falam, seja nas "flash-interviews" ou nas conferências, causam-me sempre a estranha sensação de em cada resposta estarem a dirigir-se a pessoas diferentes. Tal dispersa, naturalmente, a resposta, torna-a confusa e tantas vezes disfuncional.
Ou seja, o treinador até pode começar por responder ao jornalista que o questionou, mas pouco depois, ele já está a querer responder aos adeptos (às perguntas que já imagina andarem lá fora) e aos críticos que falaram durante a semana, para, de repente, já estar a querer dirigir-se ao presidente e/ou elementos da direção (por razões várias), logo a seguir aos jogadores e, por fim, até ao seu próprio ego.
No meio duma resposta com tantos alvos a quem querem dirigir-se, perde-se, tantas vezes, a essência da resposta, que passa a ser um objeto de estudo a descodificar.
Numas vezes são ríspidos (imaginando que assim passam uma imagem de força e decisão) e noutras mais amáveis (imaginando que passam a ideia de dialogantes). No fim de tudo, passam a imagem de seres confusos demasiado permeáveis a tudo que os rodeia nas emoções mais primárias.
Não penso em ninguém em particular ao escrever isto. Acho é que daria um "case study" e até uma boa tese de mestrado em comunicação.