PASSE DE LETRA - Um artigo de opinião de Miguel Pedro.
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1 Uma das características dos chamados "clubes grandes" é a capacidade de suscitarem nos adeptos dos clubes adversários a curiosidade e a vontade de os ir ver ao vivo no estádio, quando aqueles os visitam.
Por isso, as assistências são maiores quando estes clubes jogam nos estádios dos adversários. O SC Braga tem tido esta marca: quando se desloca aos estádios dos clubes do nosso campeonato, estes têm conseguido assistências maiores do que é habitual nos demais jogos.
No jogo contra o Marítimo, na passada jornada, a visita do SC Braga trouxe o recorde de espectadores na bancada nesta época, com 9938 pessoas a verem o jogo, ultrapassando mesmo o jogo que opôs o Marítimo ao FC Porto (9624 espetadores). Estes são os sinais mais evidentes do crescimento e importância do clube bracarense ao nível do nosso futebol: o reconhecimento pelos adeptos dos clubes adversários de que vale a pena irem ao estádio verem o jogo contra o Braga. Mais "Bragas" houvesse, mais espectadores existiriam nos estádios portugueses.
2 Lembro-me bem da visita do Tottenham a Braga, na época de 1984/85. Por um lado, nunca poderei esquecer a pronúncia do saudoso "speaker" do velhinho estádio 1º de Maio ao anunciar, de forma individualizada, cada um dos jogadores ingleses; por outro lado, o sentimento que então me assolou de que os ingleses pertenciam a uma galáxia distinta, no que respeita ao futebol jogado. Perdemos o jogo por 0-3. Deu-me a ideia de que eram mundos futebolísticos diferentes e de que, por muito que fizéssemos, nunca o Braga chegaria aquele nível exibicional.
O tempo veio mostrar que tal ideia, felizmente, estava errada. Já vimos que o SC Braga, nos tempos recentes, é um clube com marca europeia, conseguindo ombrear com a grande maioria dos clubes europeus. No entanto, o jogo com a Fiorentina fez-me recordar aquele sentimento antigo, que tive na visita do Tottenham, em 1984. A qualidade exibicional dos italianos pareceu-me muito superior à do Braga, mesmo antes da expulsão de Tormena. É certo que, apesar de tudo, poderíamos ter marcado ainda antes do golo italiano e talvez as coisas fossem diferentes. Mas agora, face ao pesado resultado que nos afasta da discussão da eliminatória, resta provar, já no jogo de hoje que, como bem referiu Ricardo Horta no final do encontro, as goleadas (se incluirmos os jogos contra o Sporting) que sofremos não definem, de todo, a época do Braga. São meros acidentes de percurso, são dores de crescimento. Assim esperamos.