Após o Braga-Benfica, começou a palhaçada e o folclore a que estamos habituados

Parece existir um padrão: uma derrota pesada em Alvalade acarreta uma reação muito positiva do Braga. Contra o Famalicão, os reforços de inverno afirmaram a sua presença, revelando, mais uma vez, que as respetivas contratações foram - e muito - acertadas. Contra o Benfica, num jogo de "mata-mata", uma vitória difícil e muito esforçada, a abrir as portas para conseguirmos um dos assumidos objetivos da época: presença na final da Taça de Portugal.

Sejamos justos: o Benfica tem belíssima equipa e um treinador muito competente e inteligente. Até à expulsão, foram superiores e o Braga estava a sentir dificuldades em conseguir ter bola, face à pressão dos adversários e às suas movimentações permanentes, que até pareciam saídas de um jogo de andebol. Com a expulsão, o jogo "equilibrou-se", mas, mesmo assim, o Braga teve de ser muito competitivo para vencer um Benfica que sempre mostrou saber bem o que fazer em campo.

Depois, vieram os penáltis e Matheus acabou por mostrar porque é - para mim - o guarda-redes mais competitivo a jogar em Portugal: um jogador que vale muitos e muitos pontos no campeonato e vale eliminatórias destas. Mais do que merecido ter sido distinguido como "futebolista do ano" na Gala da família bracarense deste ano.

E, após o jogo, começou a palhaçada e o folclore a que estamos habituados: um alegado penálti não assinalado contra o Benfica tornou-se a matéria mais importante de todas. Reações, comunicados, cobertura mediática do único lance que se tornou viral. Um lance, uma só situação parece ter sido a causa de todos os males do jogo do Benfica. Num programa de televisão, o lance do eventual penálti (e as suas componentes mais conspirativas ) foi discutido durante ... 14 minutos.

Imaginemos o que pensará um adepto do Arouca, Paços de Ferreira ou do Famalicão (ou de quase todos os outros clubes), que nem sequer têm direito a 14 segundos nesses programas. Quantas jogadas duvidosas têm a maioria dos clubes do campeonato, quase todas as semanas, sem que sejam sequer mencionadas, num qualquer parágrafo de um qualquer jornal?

Reduzir todo o jogo a uma só jogada de um eventual penálti (que, ainda por cima, é duvidoso, pois, sendo certo que existe o contacto, não é menos certo que o mesmo também é também provocado pela tentativa de rotação do avançado benfiquista), o qual não é sequer a certeza de um golo, pois, como vimos, o Matheus até sabe defender penáltis, diz muito do circo que é o nosso futebol.