A JOGAR FORA - Um artigo de opinião de Jaime Cancella de Abreu.
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1 Acima da nossa, foi a imprensa internacional que mais méritos reconheceu quarta-feira à exibição do Benfica, que jogou olhos nos olhos com uma das mais poderosas equipas da Europa, cujo plantel vale três vezes o nosso e apresenta um tridente ofensivo que mais nenhuma equipa ao cimo do planeta se pode gabar de possuir.
Enquanto por cá o relevo maior foi para o autogolo de Danilo e para a imaculada exibição de Vlachodimos, no L"Équipe - o mais importante jornal desportivo de França e, quiçá, da Europa -, escreveu-se que "os parisienses foram salvos pelos seus talentos: Messi a marcar e Donnarumma a evitar a derrota". Impossível ser mais claro e mais óbvio.
2 Como Lindelof e Rúben Dias, António Silva chegou à primeira equipa para tapar vagas abertas pelas lesões de habituais titulares.
Há, porém, na sua meteórica ascensão, uma diferença de monta: não teve tempo de maturar na equipa B (4 jogos, contra 99 de Lindelof e 60 de Rúben). Contudo, e apesar dos seus tenros 18 anos, o salto direto para o nível competitivo mais elevado não o fez abanar ou vacilar perante monstros como Vlahovic, Mbappé, Neymar e Messi. (Curiosamente, foi entretanto suplente nos sub-21, quem sabe para legitimar a muito comentada não convocação para os A.)
Revejam, por favor, a pressa com que foi resgatar a bola depois dos golos sofridos com a Juventus e o PSG, observem a forma como procura orientar as ações da equipa na sua zona de ação, e perceberão que, para além da técnica e da tática, para além da tranquilidade e da humildade, está ali alguém com claro e óbvio perfil de líder.
3 Não conheço os contornos puramente jurídicos da trapalhada fiscal em que são protagonistas Fernando Santos e a FPF. O que me faz verdadeiramente espécie é ver uma entidade tida como de utilidade pública, apresentada como um exemplo de organização e profissionalismo, com o impacto que tem na sociedade, ver-se envolvida em processos deste (vergonhoso) calibre e ninguém ter dali tirado, ainda, as devidas consequências: não caiu o selecionador e não caiu nenhum alto responsável da FPF - um erro tão claro e tão óbvio que nem o VAR, tantas vezes "ausente" em parte incerta na Cidade do Futebol, alguma vez deixaria escapar.
Nota: por razões profissionais, esta crónica foi escrita antes do jogo Benfica-Rio Ave, que não é, por isso, aqui comentado.