Ano novo, vida nova? É hora de Rui Costa promover uma nova mentalidade competitiva
A JOGAR FORA - Opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - Jorge Jesus, que até nem é dessas coisas, soube reconhecer que fazia parte do problema - esperamos, agora, que as outras partes se cheguem à frente também. Repor a autoridade no balneário é uma tarefa prioritária para Rui Costa. Mal do clube onde os jogadores, ou parte deles, têm o poder de despachar treinadores. Foi assim com Rui Vitória e Bruno Lage, assim foi com Jorge Jesus - e os resultados falam por si: o Benfica do "tetra" (quem não concordava que criara as condições para ser hegemónico em Portugal?) transformou-se num Benfica da "treta", que passou por inadmissíveis vergonhas na Europa e vai para um único título de campeão em cinco épocas em Portugal (obrigado, Bruno Lage, pelo empolgante milagre!).
2 - Do nada e sem os meios dos que o antecederam, Sérgio Conceição ressuscitou um projeto desportivo moribundo; Rúben Amorim, por seu lado, pacificou e uniu o Sporting, evitando que Varandas fosse o terceiro presidente em três a ser destituído por uma assembleia geral repleta de impacientes (e justamente frustrados) sócios do clube. Chegou a vez de o presidente do Benfica assumir aquela que é, a um só tempo, a mais importante, difícil e ingrata missão do seu mandato: não errar na escolha do treinador para as próximas épocas.
3 - É hora - e já vai tarde - de Rui Costa promover uma nova mentalidade competitiva aos mais variados níveis do clube: da formação à equipa principal, dos jogadores às equipas técnicas e aos dirigentes. Deverá, também, questionar a utilidade dos luxos que conduziram ao aburguesamento que é castrador da vontade férrea de vencer, do espírito de sacrifício, do antes quebrar que torcer. O Benfica pode perder, mas só pode perder depois de deixar a pele em campo. É pela atitude e pela raça, não pelas suas qualidades futebolísticas, que Gilberto é hoje dos mais apreciados pelos adeptos - e isto diz tudo sobre o atual estado das coisas.
4 - O Benfica tem que bater o pé e fazer ouvir a sua voz quando é inadmissivelmente prejudicado dentro dos relvados, quando as instâncias do futebol decidem contrariamente aos seus legítimos interesses ou quando, com o objetivo único de cavalgar audiências, é maltratado por parte da comunicação social. E isso não se faz com "newsletters" (de uma candura tal que chego a ter vergonha de as ler) ou comunicados igualmente inconsequentes. Nem a cara do clube se pode confundir unicamente com a do treinador, ou a do seu adjunto, à boleia das conferências de imprensa pré e pós jogos.
5 - A última palavra de um presidente resulta, não poucas vezes, de uma decisão solitária. Porém, nada impede que Rui Costa adote um modelo de governação não baseado no presidencialismo puro e duro para o qual não parece estar fadado. Que prescinda dos "yes-man" próprios destes regimes e os substitua por profissionais de competência comprovada - com a base de recrutamento de que o clube dispõe e os valores com que remunera os seus quadros não parece coisa difícil - e por alguns daqueles com provas dadas que pousam, sem utilidade de maior, nas prateleiras da Luz.
PS: Em Barcelos não foi assinalado um pénalti a Matheus Reis e foi poupado o segundo amarelo a Matheus Nunes; contra o Portimonense o jogo foi decidido por Paulinho, que, com o resultado em 0-1, devia ter visto um vermelho direto por clara agressão a um adversário; sexta-feira foi Fábio Vieira que transportou a bola com o braço no primeiro golo do FC Porto. É o VAR a decretar a inutilidade do VAR - e a promover a inverdade desportiva da competição.