HÁ BOLA EM MARTE - Opinião de Gil Nunes
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Recheada de pragmatismo - era assim e mais nada - a vitória do FC Porto em Leverkusen traz consigo a reflexão. No início da época, os dragões podem ter perdido algum perfume no seu jogo, mas afinal de contas o que é a criatividade?
Será o jogo imprevisível e fora da caixa de Vitinha? Ou será a capacidade de se analisar o contexto e de se encontrarem as soluções um segundo antes que todos os outros, como acontece com Taremi? Ou mesmo nada mais fantasioso do que resolver as coisas apenas com dois jogadores e um brilhante passe longo - Diogo Costa e Galeno?
De facto, a vida pode sorrir e não ser criativa. Foram vitórias e foram golos obtidos e produzidos de acordo com os jogadores em campo e concretizados no seguimento da observação das fragilidades do adversário. Com os jogadores a acreditarem no plano de jogo. Perante um adversário com muita qualidade no último terço, a solução passava por baixar, respirar fundo, e disparar no momento certo. E proporcionar espaço no flanco para Galeno explorar. Porque às vezes não é preciso inventar muito. Basta acreditar.
De gala, Galeno!
Uma excelente exibição e também do ponto de vista defensivo. Fazendo lembrar os tempos do Braga - em que muitas vezes baixava e concretizava a linha de cinco - articulou-se com Zaidu quando esteve teve de fletir para o centro e fechar o espaço. Depois de no jogo do Dragão ter acrescentado aquela pitada de velocidade que definiu o golo inaugural, na Alemanha foi o jogador em foco: sem medo de ir para cima do adversário, de fazer uma abordagem mais arriscada e repleto de confiança. Em si e nos outros: acreditou que a bola de Diogo Costa ia parar ali e que tinha qualidade para definir a receção orientada. De cabeça erguida, até porque os tempos de ansiedade já lá vão.
Ricardo Esgaio: rolo compressor
Rúben Amorim tem toda a razão em protegê-lo porque, friamente falando, Esgaio é realmente um excelente jogador. Com capacidade para jogar quer em velocidade pela faixa direita ou então definindo mais por dentro (passes em profundidade com o pé esquerdo), é também versátil para atuar como central do lado direito ou mesmo como defesa esquerdo se for o caso. Sempre com rendimento. A abordagem em Marselha foi disparatada e típica de quem não está com a cabeça no lugar. É certo. Mas a culpa também foi de um processo defensivo que causou uma cratera naquele espaço proibido. O técnico protege-o como pode, até porque basta esfriar para recuperar.
João Mário está de volta!
Excelente exibição em Paris. Colocado de forma estratégica do lado direito da linha média - atacando em diagonal e estancando a investida do lateral-esquerdo adversário - a prestação de João Mário voltou a ser pautada pelo critério, pela tranquilidade no passe e pelo pleno entendimento da ideia de jogo que se pretendia implementar. E há espaço para refletir: por muito que o jogo de João Mário peça espaço e amplitude, parece ser a partir da faixa como falso ala que se sente melhor (leia-se também seleção e euro 2016). Muita tranquilidade no momento da grande penalidade, batendo com frieza e confiança. Recuperado por Schmidt, consolidou índices de confiança.
Vitinha: produto diferenciado
Na Bélgica marcou de pé direito, de pé esquerdo e ainda de cabeça. Sabe jogar em dupla e é de tremenda eficácia quando é preciso pressionar a linha defensiva do adversário. O Sporting que o diga. Jogador da semana da Liga Europa com todo o mérito e aquela positiva sensação de que ainda pode fazer mais e melhor.