É apenas a lei da física que rege a vida dos treinadores e os obriga a uma oscilação permanente entre o alto e o baixo, a glória e a miséria, o céu e o inferno. O futebol faz isso a todos, até aos melhores, que são os que oscilam menos.
Corpo do artigo
Perdemos por detalhes", disse Rúben Amorim, depois do clássico de domingo passado. Estava a dizer-nos que controla as coisas grandes, importantes, mas, depois, vêm os detalhes e decidem os jogos. Também se diz, antes de um jogo que se prevê equilibrado, que ele «será decidido por detalhes». Fica-se a pensar: como é que detalhes têm costas tão largas? Por outro lado, fala-se deles como se fossem acidentes, excrescências, quando o jogo não é mais do que uma soma de detalhes de diferentes qualidades.
Rúben Amorim, involuntariamente, teve razão: os jogos ganham-se e perdem-se sempre por detalhes. Eles são o próprio jogo. Por isso, custa menos ouvir um treinador desculpar-se com eles ou a dizer, depois de uma derrota injusta, que «aconteceu futebol», do que ouvir a fanfarronice do «ganhámos porque os jogadores cumpriram o plano». Tantos treinadores que falam como se a matéria viva do jogo fosse obra sua e não o que realmente é, uma construção de quem joga, musicada pelo acaso. Basta olhar de perto para um relvado, com toda aquela irregularidade, onde rola uma bola, que é aquilo que melhor escapa às leis da vida. O que pode sair dali senão um encadeamento fulgurante de detalhes?
Rúben Amorim, depois de uma entrada triunfal, que o disparou para as alturas, como um foguete, está agora em queda, a fazer o percurso inverso. Vencido por uma conspiração de ninharias mal intencionadas? Nada disso. É apenas a lei da física que rege a vida dos treinadores e os obriga a uma oscilação permanente entre o alto e o baixo, a glória e a miséria, o céu e o inferno. O futebol faz isso a todos, até aos melhores, que são os que oscilam menos.
Veja-se o exemplo de Klopp, no Liverpool, que, de uma época para a outra, foi do topo a um esforçado oitavo. lugar no campeonato. Não são eles, os treinadores, é o futebol que é incompetente; e também não respeita nada, nem sequer o mérito ou a justiça, quanto mais a duvidosa ciência de treinadores.
Ainda assim, os comentários e análises que se seguiram ao clássico incidiram no excesso de participação de Amorim, que esteve frenético, e na solidez táctica de Conceição, ou seja, no modo como eles ergueram o destino do jogo. Os treinadores, os treinadores, os treinadores. Parece que eles são o eixo onde o futebol se apoia para poder girar. No entanto, repito, quem traça o destino dos jogos são os que o jogam. Eles e a bola, que está sempre a indicar-lhes novas posições. E, depois, há os detalhes, pois claro. Num assunto tão importante como um jogo de futebol nenhum detalhe é pequeno.
Os treinadores gritam instruções, gesticulam e enviam papelinhos com mensagens para dentro do campo, enquanto têm ataques de nervos e dão pontapés no vento ou em garrafas de água, como qualquer outro espectador mais sensível, porque também eles são espectadores e estão na margem, excluídos, impotentes. Claro que têm a sua porção de influência, mas está longe de corresponder à importância que lhes dão, e que não é um detalhe. Razão tinha o ex-treinador Manuel Cajuda que, sempre que chegava a um novo clube, dizia: «Eu sou só o c"ajuda».