Agradeço a Fernando Santos não ter convocado o mais explosivo jogador português
A JOGAR FORA - Um artigo de opinião de Jaime Cancella de Abreu.
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1 "Quero saber porque não o parou", desabafou Bruno Pinheiro depois de ter tido o raro privilégio de assistir, ali mesmo ao nível do relvado, a um dos mais extraordinários golos dos últimos anos.
Chegado a casa, fui rever - e confirmei: só mesmo à pantufada de vermelho direto teria sido possível travar Rafa naquela imparável correria rumo a uma obra de arte chamada golo. Pobre futebol quando treinadores, comentadores, críticos e quem mais cronicou sobre o jogo se referem, mais do que à beleza de uma jogada prodigiosa, ao incompreensível facto de ela não ter sido interrompida, destruída, aniquilada. Como se os espetadores, no estádio ou em casa, pagassem para ver faltas e não jogadas e golos de eleição.
2 Desejo sempre o melhor para a Seleção, mas ainda mais para o Benfica. Assim, agradeço penhoradamente a Fernando Santos não ter convocado o mais explosivo jogador português - que com 16 assistências lidera destacado esta tabela da Liga, a que soma 12 golos na época, vários deles decisivos. Os desafios que temos pela frente, nomeadamente a transcendente eliminatória com o Liverpool, precisam do Rafa ao mais alto nível - o dos primeiros meses da época, da segunda parte com o Ajax na Luz e do golo com o Estoril. (Desconfio que 98 em cada 100 benfiquistas pensa como eu.)
3 Leio que Otamendi e Darwin podem não chegar a tempo de jogar em Braga e, de caminho, apetece-me, revoltado e indignado, perguntar: e se a sua ausência for determinante para o Benfica perder pontos que venham a revelar-se decisivos para o não acesso direto aos milhões da fase de grupos da Champions? Quem é que pagou as transferências e está obrigado a liquidar, religiosamente ao fim de cada mês, os salários e os prémios aos jogadores? Até quando a prepotência ditatorial da FIFA, que se enche de biliões à custa dos clubes, vai permanecer intocada pela absurda complacência destes?
4 Com os jogadores mais focados na equipa e menos em Cristiano Ronaldo, a Seleção fez, desta vez, por merecer a sorte que não desiste de acompanhar Fernando Santos. Com a Itália afastada, penso que ninguém se escandalizará se a FPF for tratando de reservar já as passagens para o indecoroso mundial do Catar.