APITADELAS - Um artigo de opinião de Jorge Coroado.
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O futebol é, consabida e indiscutivelmente, uma indústria, um negócio. Uma atividade económica com especificidades próprias, enquadramento, orgânica e dinâmica muito peculiares, quiçá sui generis.
Apesar do esgrimido contributo significativo para o PIB, alguns, muitos, dos princípios subjacentes à atividade diferem, estão mesmo invertidos ou nos antípodas, das práticas usuais relativamente aos demais integrantes do tecido económico.
Trata-se de produto vendável sem necessidade de publicidade, pelo contrário, recebe para ser veículo promotor e divulgador. Só muito excecionalmente, sobretudo em jogos da Seleção, é feita promoção paga dos eventos. A atividade de todos os participantes nas diversas competições é noticiada sem que as marcas (emblemas) tenham de pagar. Não menos verdade é o facto de ser fautor de múltiplas atividades e garante de pão na mesa para muita gente que, gravitando em seu redor, sem despender gota de suor, divulga, promove e noticia, explora sem pudor a imagem de quem se destaca e, olvidando tratar-se de ser humano, não respeita a individualidade, a privacidade e intimidade, não reconhecendo direito ao afeto, à emoção, ao sentimento, como a recente novela em torno de CR7 demonstra.
É, de igual modo, a única indústria no mundo em que o presidente de um dos intervenientes se dispõe atacar, maldizer e zurzir nos presidentes adversários (seria interessante ver o presidente de uma grande empresa da distribuição ou banco a fustigar o presidente de um concorrente). Não menos verídico é a ânsia intrínseca de os "artistas" verem nome e imagem escarrapachados nas páginas dos jornais, imagem divulgada nas TV, feitos privados publicitados.
Evolução
A evolução verificada no futebol é significativa, a diversos níveis: regulamentação, organização, gestão, estruturas (estádios, centros de treino, departamentos médicos, merchandising), etc., foram, têm sido, contributo indissociável para o fomento da imagem promovida. Também as metodologias do treino, as exigências da preparação física mudaram. Os treinadores, hoje acolitados por preparadores físicos devidamente habilitados, não põem os jogadores a subir e descer bancadas de terceiros anéis, correrem atrás de galinhas ou carregarem troncos de árvores na mata.
Involução
Não obstante as modificações que têm enformado, estruturado e definido a ação, dinâmica e modernização da orgânica do futebol, obviamente com FPF na liderança, secundada, em muito, nos procedimentos pela LPFP, verifica-se notória involução comportamental nos agentes fautores de tais mudanças, assentando atitudes em forma aberta e assumidamente discricionárias, usando magistratura do poder institucional e político para, autocraticamente influenciar, sugerir e impor vontades, filtrar interesses, condicionar liberdade de opinião, de expressão e de imprensa.