VELUDO AZUL - Um artigo de opinião de Miguel Guedes.
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Não ouvíamos Sérgio Conceição falar desde o dia 25 de abril e, talvez por isso, a renovação do vínculo contratual com o FC Porto venha cravada a orgulho e acompanhada a um travo de revolução.
Fez-se História. Com mais três anos de ligação contratual ao clube - até 2024 -, este que poderá vir a ser um percurso de sete anos, marcará um caminho paralelo ao eventual derradeiro mandato do presidente Pinto da Costa.
Se assim for, será imensamente significante: a transmissão de testemunho far-se-á da presidência para o balneário. E esse será um dado pessoal e transmissível de ADN, à prova de qualquer sede de poder avulso.
A blindagem de fogo face às agressões externas também se faz assim, pelo redobrar da força. Sérgio Conceição é mais do que o treinador certo para o momento. É o homem certo para o contexto de uma equipa que sabe que não se pode vergar. Desenganem-se os que pensam que estes dois últimos anos de pandemia em algo alteraram os equilíbrios viciados do futebol português. Podem ter introduzido tempos de paragem competitiva, algumas dúvidas, desacertos que foram aproveitados por outros como oportunidades. Mas quando Sérgio Conceição refere que "optou pelo silêncio para não dar pedras aos inimigos", sabe bem que esse é o caminho que o espera. Assim a equipa o entenda. Assim o clube o resguarde. Assim os adeptos, disso sabendo, o apoiem.
Uma década onde pouco mudou...
Os quatro anos de Sérgio Conceição só podem ser numericamente comparáveis com os quatro anos de Jesualdo Ferreira. Nunca nenhum outro treinador de futebol, para além deles, esteve tanto tempo à frente do clube. O Professor conquistou 3 campeonatos (o seu Tri pessoal que nos deu o Tetra), 2 Taças de Portugal e 1 Supertaça, tendo atingindo por três vezes os 1/8 da Liga dos Campeões e apenas por uma vez os 1/4 de final da competição maior de clubes. Na época de 2009/2010, a sua última época de azul e branco, o Penta foi uma impossibilidade após os 18 jogos de suspensão de Hulk que, posteriormente, o Conselho de Justiça transformou em 4. O cirúrgico túnel. Entretanto, já o FC Porto perdera dois jogos e empatara cinco, 16 pontos a voar para as mãos do primeiro Benfica de Jorge Jesus.
Mais de uma década depois, são outros os tempos. Mas nem por isso as dificuldades se alteraram, como ficou bem demonstrado pelo título que o Benfica venceu há dois anos, com o terço final do campeonato decidido por decisões de arbitragem que escandalosamente o favoreceram. Os primeiros quatro anos de Sérgio Conceição saldam-se pela conquista de 2 campeonatos, 1 Taça de Portugal e 2 Supertaças, tendo alcançado por duas vezes os 1/4 de final da Liga dos Campeões, os 1/8 da mesma competição por uma vez e por uma derrapagem para a Liga Europa, onde se ficou pelos 1/16 de final. A indiscutível capacidade e ambição europeia das equipas de Sérgio Conceição são o seu traço - indesmentível - no FC Porto, o que honra a história do clube num contexto cada vez mais exigente para o futebol português, nesta disputa desigual com os grandes tubarões financeiros do futebol europeu.