VELUDO AZUL - Uma opinião de Miguel Guedes
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A história diz-nos que, na fase de grupos da Liga dos Campeões, só por cinco vezes o FC Porto não conseguiu vencer um jogo fora de casa.
Perder com o Liverpool não pode ser encarado com naturalidade, mesmo para uma equipa que entrou em Anfield para vencer, foi perdulária e merecia outra sorte.
Em cada uma dessas épocas, não alcançámos a passagem para os 1/8 final da competição, algo que surge agora como um novo tipo de variante de mau augúrio. A derrota em Anfield marca a meia dúzia de épocas em que a equipa não ganha enquanto forasteira mas, desta vez, com o sabor de injustiça nos empates em Madrid e em Milão.
A nossa rotina é ganhar. Perder com o Liverpool não pode ser encarado com naturalidade, mesmo para uma equipa que entrou em Anfield para vencer, foi perdulária e merecia outra sorte. Está tudo nas nossas mãos com o Atlético de Madrid e no fogo de um Dragão já sujeito a certificado e teste Covid, a 7 de dezembro. A possibilidade de derrapagem europeia - que ditaria a saída de todas as competições - não está afastada e a abordagem ao jogo tem que ser ambiciosa. Não há qualquer razão para a equipa duvidar do que pode e sabe fazer.
Mesmo quando Conceição se aproxima da série de 44 jogos no campeonato sem perder de Bobby Robson, são os jogadores que têm sempre que reclamar o justo protagonismo. Para que não se criem dúvidas onde elas não existem, é fundamental fazer caminho limpo até lá. Hoje, com o V. Guimarães que luta pela Europa e, depois, com o Portimonense que à data ocupa lugares europeus, a naturalidade tem que combinar com exigência. Ninguém pode retirar o pé, mesmo que não se sinta a mão de Pepe. E sabemos como ela é agregadora.
Inqualificável não qualificarmos
O sorteio para os dois jogos de play-off vem trazer-nos as dificuldades que merecemos, em ajuste de contas. Na realidade, merecemos sofrer. Ao contrário da esmagadora maioria dos portugueses que "só se viram gregos" na final do Euro"04, Fernando Santos, ex-selecionador da Grécia, conhece bem (e por dentro) a expressão. Podemos confiar que a experiência de todos convoca sempre boas ou melhores soluções mas, se assim fosse, teríamos evitado a calculadora. A campanha da seleção portuguesa na fase de grupos para o Mundial"22 no Catar foi medonha, sobretudo pelo que prometia e pelo que deveria ter sido mas não foi.
É sempre possível acreditar que a Itália (que só falhou os Mundiais de 1958 e 2018) poderá falhar duas fases finais consecutivas. A segunda selecção com mais títulos mundiais, quatro (só o Brasil tem mais um), já foi batida em duas finais de Mundiais e, com Portugal, é de uma final que se trata. Inspiremo-nos e saibamos mudar o "chip". Aliás, tanto Santos como Mancini batizaram o jogo como "uma final" (caso ultrapassemos a reconstituída Turquia, sendo que a Itália não deverá enfrentar grandes problemas frente à Macedónia do Norte). Foi inqualificável não nos termos qualificado. Mas, agora, mesmo com a geração de jogadores que temos e vemos crescer, já não será inqualificável se formos derrotados pela Itália. Será apenas imperdoável, por aquilo que não fizemos até aqui.