A revista Sábado ofereceu-me o melhor dos presentes que recebi no Dia de Reis
A JOGAR FORA - Opinião de Jaime Cancella de Abreu
Corpo do artigo
1 - Estou penhoradamente agradecido à revista Sábado - ofereceu-me o melhor dos presentes que recebi no Dia de Reis: despachada a leitura das onze páginas cheias de escutas fornecidas pelas toupeiras de serviço à Cofina, não encontrei uma única vez as três mais cinco letras do nome do atual presidente do Benfica.
O que dali se conclui é tão claro e tão óbvio que até os VAR que não veem os penaltis a nosso favor com facilidade validariam, a saber: a forma assumidamente absolutista como Vieira geria o clube (nada de novo) e o modo como Rui Costa não era tido nem achado nessa gestão (nada de novo também). Acresce que o clube é em tudo aquilo a vítima do roubo e não o ladrão.
2 - Se é fácil compreender a utilização de uma mão cheia de inúteis escutas como combustível para alimentar o looping especulativo de que alguns canais necessitam para competir com os reality shows da concorrência - Mourinho não queria Jorge Jesus no Benfica (no que estava, aliás, coberto de razão), Lage tinha iniciado uma limpeza de balneário ou a insatisfação de Ronaldo que o podia levar de novo a Madrid -, já considero indecoroso que se procure colar Rui Costa às alegadas trapalhadas do ex-presidente só porque a sua assinatura aparece justaposta em determinadas ordens de pagamento - como se alguém pudesse ser responsabilizado pelo que fazem ao dinheiro os beneficiários dos pagamentos que ordena.
A única coisa que em verdade interessa saber é se Rui Costa tinha conhecimento de que o dinheiro, depois de fazer a costumeira rota das offshores (ou outras), ia indevidamente parar à órbitra de interesses (família, amigos, empresas) de Vieira, ou se o atual presidente foi, também ele, beneficiário desse alegado esquema - e não se descortinam indícios de nada disto em parte alguma.
3 - Sobra, assim, aquela questão muito cara à oposição e a quem por defeito ou feitio ataca militantemente o clube: se andava lá e não dava por nada, então é porque o Rui Costa é um "banana". Será a sua ação - e não as considerações de "banana" com que o procuram atingir - que mostrará se é capaz de impulsionar a imediata e monumental limpeza interna de que o clube tanto precisa. Não lhe faltam condições - benfiquismo, legitimidade eleitoral, conhecimentos de futebol, exemplos de como não fazer - e a hora chegou. Carrega, Rui!
4 - Segunda-feira cheguei mais cedo a casa para ver o Manchester United ser dominado, e merecidamente derrotado, pelo bem trabalhado Wolverhampton de Bruno Lage. E, logo que constatei a euforia dos adeptos dos "lobos" nas bancadas de Old Trafford, lembrei-me do melhor Benfica dos últimos anos - o da inigualável segunda volta de 2018/19 - e do quanto foi gratificante ir atrás da equipa para todo o lado, com os companheiros do costume e a inevitável paragem no Pote do Leitão, em Pombal, para o "maninho" Sílvio nos brindar daquela forma que só ele sabe, e depois seguirmos estrada fora para mais uma vitória, para mais uma goleada, para mais um regresso a casa em festa.
E não há como não deixar aqui a pergunta que de mim para mim tantas vezes fiz sem lhe encontrar a resposta: como foi possível a estrutura do Benfica ter deixado cair Bruno Lage daquela forma tão indigna - desprotegido, desconsiderado, deslustrado? (Ainda a Liga de 2019/20 não tinha recomeçado da paragem do Covid e, com o Benfica a um ponto do líder FC Porto e dez jornadas por cumprir, já Vieira respondia a absurdas perguntas sobre Jorge Jesus numa entrevista à BTV. O resto foi o que se sabe.)