A pressão do Flamengo em torno de Jorge Jesus pode mexer com os jogadores
A antevisão do clássico por Jaime Cancella de Abreu.
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O pontapé de saída do clássico aproxima-se a passos largos e, mesmo com algum ruído de fundo gerado pela conversa de Jorge Jesus com dirigentes do Flamengo, é o cheiro da relva que os adeptos já sentem. Jaime Cancella de Abreu, cronista de O JOGO, aceitou responder a questões sobre o jogo, como se de uma conferência de Imprensa se tratasse e até questões táticas entraram neste campo opinativo, como se pode conferir a seguir.
A pressão do Flamengo em torno de Jorge Jesus terá algum peso no clássico da Taça?
-A pressão do Flamengo em torno de Jorge Jesus - que é para o lado onde o próprio, com a sua experiência e o seu feitio, melhor dorme - pode mexer, na pior das hipóteses, com os jogadores. Parece-me de todo impossível fazê-los ignorar tudo o que se tem dito e passado desde que os dirigentes brasileiros aterraram em Lisboa. E não é bom - nunca é bom - quando um grupo tem dúvidas sobre o futuro próximo do seu chefe.
Em 13 visitas às Antas/Dragão para a Taça de Portugal, o Benfica apenas venceu três jogos. Faz sentido falar em trauma? Se for assim, como se combate?
-Não me parece que para jogadores tão experimentados como os do Benfica o passado possa funcionar como um trauma. Contudo, com ou sem trauma, a estrutura que trate de lhes mostrar as inspiradoras imagens da final da Taça da época 1982/83, vergonhosamente disputada no Estádio das Antas, casa de um dos finalistas - o outro foi o Benfica, que ganhou brilhantemente por 1-0 e trouxe o mais do que merecido troféu para Lisboa.
Depois da derrota com o Sporting, o Benfica leva quatro vitórias seguidas e 16 golos marcados. O rendimento do ataque encarnado pode ser decisivo frente ao FC Porto?
-O que será decisivo é a equipa ser capaz de funcionar como um bloco coeso e solidário, com enorme atitude competitiva, quer a atacar, quer a defender. Com o espírito de Eindhoven. Apostaria em três homens no meio campo - não me parece que uma dupla tão "macia" quanto Weigl e (principalmente) João Mário seja suficiente para combater o poderoso meio campo do FC Porto. É desejável que Paulo Bernardo (a minha preferência), Taarabt ou qualquer outro médio com real capacidade de disputar duelos jogue de início.
Qual a melhor estratégia para contrariar a principal figura do ataque adversário, Luis Díaz?
-O perigo maior do futebol de Luis Díaz - a par de Rafa o melhor jogador da Liga - é a forma como gera desequilíbrios fletindo da esquerda para o meio e, ainda, como aproveita os espaços interiores entre lateral e central adversários. Com uma linha de cinco defesas - assim será garantidamente com o Benfica em processo defensivo - e os jogadores muito próximos (como primeiros e segundos "ajudas"), será possível tapar melhor os espaços por onde o colombiano causa habitualmente mais danos. Mas a imprevisibilidade do seu jogo e a forma por que passa vão ser uma dor de cabeça difícil de dominar.
Qual deverá ser a melhor opção na frente, dois pontas-de-lança com Rafa no apoio ou o tridente? Quem justifica entrar de início no ataque?
-Defendendo que o Benfica deve jogar com três médios, não sobra espaço se não para dois avançados - que deverão ser, obviamente, Rafa e Darwin. Quando o FC Porto estiver adiantado no terreno - o que se prevê venha a acontecer com frequência - o Benfica deverá estar preparado para explorar a profundidade que Rafa e Darwin lhe oferecem.
O trio de centrais é para manter, com André Almeida, ou faz mais sentido deslocar este jogador para a sua posição de origem, a lateral direito, para tentar potenciar a segurança no flanco?
-A defesa a três é para manter, obviamente. Não me admirava que Jesus apostasse num central canhoto para jogar descaído sobre a direita (nesse caso, Morato), para melhor fechar os movimentos de Luis Díaz para o meio. Julgo, não obstante, que jogará André Almeida. A lateral direita pertencerá a Gilberto se este recuperar (como desejo) a tempo do jogo.
"Rotatividade? Joga quem estiver melhor, mas agora é Vlachodimos"
Jogar Helton Leite, como tem acontecido nas taças nacionais, ou Vlachodimos. Eis a questão: "Em jogos deste grau de dificuldade deve jogar o guarda-redes que o treinador entender que está em melhor forma e/ou cujas características melhor se adequem ao tipo de jogo praticado pelo adversário. Aliás, não entendo a lógica dessa "moda" de rodar os guarda-redes nas taças. Se tem dois ao mesmo nível, a rotatividade deve ser feita independentemente da competição; se um está melhor do que o outro, é quem deve jogar. Julgo que será Vlachodimos a ocupar a posição 1."