PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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"Ouço debater como aumentou muscularmente Florentno ao ponto de estar nesse factor o ter surgido diferente neste arranque de época"
1 Nunca percebi a pergunta feita aos treinadores se "preferem ganhar por 4-3 ou por 1-0?".
Se a ideia é esperar pela resposta de preferir um jogo com muitos golos e assim ver nele a ideia de futebol ofensivo e espetacular (uma espécie de superioridade moral de intenções para o jogo) em vez do querer vencer sabendo atacar no momento certo mas a partir do não sofrer golos (a importância da baliza inviolada, o "clean sheet" que os treinadores em Inglaterra tanto falam), então estão a ver a essência competitiva do jogo ao contrário.
2 Um jogo de 4-3 ou 5-4 pressupõe desde logo um caos tático-organizativo. Pode empolgar o adepto imparcial, mas nunca o treinador que busca o rigor e eficácia nos diferentes momentos no jogo sem nunca cair no fosso do caos do jogo partido incontrolado.
Sei que é uma opinião discutível mas a possibilidade de uma equipa dita positiva de ataque mas desequilibrada defensivamente ver esse 4-3 transformado num 3-4 é muito superior à hipótese de a rigorosa na reação à perda da bola (a base do defender bem) ver o 1-0 tornar-se num 0-1 só pelo fascinante sortilégio anti-estatístico do futebol.
Voltei a pensar nisto vendo a pergunta ser feita a Roger Schmidt no fim do Benfica-Newcastle, jogo em que marcou três golos mas também sofreu demais a defender. Para a imagem do treinador alemão que chega com a aura da intensidade, pressão alta permanente e ataque, este 3-2 podia ser um belo cartão de visita para o que esperar dos jogos do seu Benfica. Golos e espetáculo, sem especulações. Schmidt não puxou, porém, desse galões, até os ignorou, fechou o semblante e mostrou que não gostara muito do que vira defensivamente.
3 A verdade é que o 4x4x2 assimétrico encarnado brilhou ofensivamente mas revelou demasiadas lacunas defensivas. Por isso, após afirmar que "ganhar de preferência sem sofrer golos é bom para a segurança e confiança da defesa", definiu a base do defender bem esteja o jogo onde estiver - "a ideia é manter a bola longe da nossa baliza, em posse ou não é a melhor forma de evitar situações difíceis" -, terminando por identificar as lacunas que permitiram ao Newcastle criar tantas oportunidades e marcar dois golos: "taticamente, temos de melhorar em algumas coisas. Não foram só erros individuais, são reações em cadeia, podemos defender melhor".
Foi o melhor momento tático falado de Schmidt no Benfica. O desmistificar do 4-3 espetacular e ver nele antes a maior ameaça tática que a equipa pode competitivamente ter: deficiências/erros de transição e organização no seu professo defensivo.
Pode ser um primeiro passo para a sua "normalização ideológica" como pode ser para a sua "competência tática". E ficar, assim, mais perto de ganhar. Sem a bancada sempre aos pulos, claro.
O mito do "Florentino físico"
Ouço debater como aumentou muscularmente Florentino ao ponto de estar nesse factor o ter surgido diferente neste arranque de época.
Ponto prévio que é importante esclarecer porque estamos a falar da competitividade de um jogador e não da sua mera fisionomia atlética: o que cresceu fisicamente não foi Florentino. O que cresceu fisicamente foi o... jogo de Florentino! Parecem a mesma coisa mas são muito diferentes.
Para isso, mais do que ter "engrossado" fisicamente, o decisivo é o seu comportamento competitivo perante o jogo (isto é, fazendo mais coisas e mais rápido, reação e ação, da cabeça às pernas). Ora tudo isto antes de físico é tático. E é neste ponto que Florentino (o seu jogo) cresceu. Fisicamente, até podia ter engrossado mais e o seu jogo ser pior (ou diferente se lhe pedissem outras coisas). O "upgrade Florentino" é de dimensão tática.
Claro que o trabalho físico em especificidade é importante (e o próprio jogador reconheceu ter feito) mas quem lhe dá depois esta prestação competitiva superior é o relvado, não o ginásio que, porque se trata dum jogo coletivo, não existe por si só no vazio.
Florentino não está, portanto, diferente. O pedido ao seu jogo é que está.