PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 Se a história se repete tantas vezes é porque existe algo de comum entre uns momentos e outros para que, futebolisticamente falando, Amorim tenha dito no fim da derrota com o Varzim, que "tem sido sempre assim toda a época".
Falava do golo que o adversário marca sempre que vai lá à frente e das oportunidades que a equipa cria e não marca.
Até podem ter existido jogos com esses contornos estatisticamente simplistas, mas é evidente que o problema do atual Sporting está longe dessas meras maldades do futebol.
O problema é de jogo, das deficiências defensivas (no processo todo, não só dos defesas) que se repetem e da cristalização dos princípios atacantes que só a criatividade individual dos avançados quebra no decorrer dos jogos.
O jogo com o Varzim nem teve, porém, esses contornos vincados. Nunca o Sporting mostrou, mesmo atacando mais frente a um adversário que, começando fechado (5x4x1), foi depois soltando-se para o contra-ataque e esteve estrategicamente sempre por cima no jogo. Mais rápida sobre a bola (para a recuperar e tirar de espaços de perigo) a equipa poveira manietou, com bases táticas sólidas, um onze leonino sem a dinâmica competitiva certa. E ganhou bem.
João Faria tirou tudo atrás, Bonilla alternou entre central e trinco, Rúben Gonçalves "corre-caminho" encheu o meio-campo e Paulo Moreira mostrou sempre saber o que fazer com bola ou fechando. Nomes próprios para um onze que não precisou da nortada fria quebra-ossos do seu estádio para honrar a história dum clube com tanta gente dentro.
2 Começou a avançado-centro e acabou a defesa-central (num sistema de três centrais) e em ambas as posições mostrou que ninguém como ele entende a equipa dentro do campo. Há quatro anos, já fora herói da ida a uma meia-final. Agora voltou a provar que é mesmo o dono da "mata de futebol" do Caldas: João Rodrigues, o "Tarzan".
Tentando gerir o jogo sem perceber os perigos que ele teria, o Benfica deixou-o voltar à vida da forma mais improvável, um erro de concentração de António Silva. Tentando mexer na equipa, Schmidt deu um nó nas análises mais lineares ao trocar Draxler por Chiquinho.
Com uma substituição destas, estaria mesmo tudo reunido para ver futebolisticamente o mundo ao contrário no relvado. E, assim, o Caldas, com João Silva inesgotável a fazer toda a faixa esquerda, levou o empate até à decisão por penáltis, onde a tensão nervosa traiu a bota de Diogo Clemente.
O Benfica que brilhou em Paris não tem contacto com a equipa sem rotinas que surgiu nas Caldas. Conseguir estabelecer essa relação, através da rotatividade e gestão, com rotinas, sem provocar tanta estranheza exibicional no colectivo, é o objectivo de Schmidt.
A história do Machico a Valadares
Histórica na resistência, a vitória do Machico sobre o Boavista, impulsionada por um filho do clube, Roberto Gouveia, da formação até assinar, aos 28 anos, de cabeça, o golo que valeu o triunfo (e que grande cruzamento de Kenny). Orientado por um dos maiores "trota-terras" dos bancos secundários, João Manuel Pinto, a equipa aguentou a pressão com Duarte Nuno a defender "bolas impossíveis". Houve um momento em que parece até um tufo de relva se ter metido no caminho duma delas após um remate de Pedro Malheiro. No meio-campo, a aguentar tudo em luta, um veterano que sabe muito, Vinícius, 36 anos (que chegou do Chipre e anos atrás andou por Braga e Moreirense).
Este é aliás um traço de experiência que se nota em muitas equipas da Liga 3 e Campeonato Portugal e que combina bem com jogadores mais novos a aparecer. O Valadares que eliminou o Chaves também mostrou essa velha frieza na forma como Pio Junior, 33 anos, marcou no prolongamento o penálti decisivo, num onze que tem Diogo Cunha a comandar, aos 36 anos, o meio-campo, marcando com precisão as bolas paradas e que, na frente, tem o saber de André Claro, pedigree de I Liga de quem sempre se esperou mais na careira, mas que neste nível pauta o ritmo ofensivo da equipa.