PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - Ao contrário do que dizem, acho que se deve voltar sempre onde se foi feliz. Na vida, como no futebol A forma como o Sporting encontrou essa felicidade em Guimarães, foi efeito desse recuo: voltar onde foi taticamente feliz. No fundo, à origem do seu modelo e sua melhor expressão como estrutura.
A vontade de meter Slimani no onze fez, num primeiro impacto, a equipa perder as mecanizações (não... mecanizadas) do seu ataque, para satisfazer um n.º 9 mais de área e responsivo a cruzamentos.
Para satisfazer essa vocação, Amorim chegou até a mudar o sistema no ataque e, com isso, embora ganhando a tal maior presença de n.º 9 na área, confundiu o melhor que a equipa tinha em termos de jogo associativo, passe-remate, com triângulos de apoio e desmarcação constantes.
2 - O jogo em Guimarães estava ofensivamente bloqueado em função dessa nova variante-Slimani. Quando trocou esse n.º 9 fixo de remate aéreo, por um n.º 9 móvel de apoios e finalizador, Paulinho, tudo mudou.
Antes de olhar para a baliza adversária, Paulinho olha primeiro para a sua equipa. Isso faz toda a diferença. Mais ainda se nesse olhar encontrar outro velho conhecido, o "Pote" Gonçalves (que entretanto tinha entrado exatamente para o espaço onde antes ele estava, atrás do n.º 9 referência), com quem fala na perfeição a nível de receção-apoio-passe-remate.
De repente, a equipa voltou a estar taticamente feliz nas movimentações ofensivas e ligação desde o meio-campo (com Matheus Nunes a recuar para, assim, como elemento de saída do duplo-pivô, conectar com a segunda linha do setor antes inexistente e agora criada pela entrada de Pote).
Meter um jogador como Slimani não é como meter Edwards. Enquanto que este acrescenta à equipa (sua forma de jogar), o primeiro, a "girafa n.º 9", muda-lhe a identidade (até adulterar a forma de jogar).
3 - O FC Porto que ganhou no Bessa foi aquele que, durante o jogo, melhor aproveitou (e potenciou nas ações de rutura a aparecer) os movimentos de Fábio Vieira como segundo avançado. Sem Taremi, ele entrou no onze e fez a missão (embora sem a mesma ligação de passe com Evanilson) de forma perfeita.
Pode, na maioria das vezes, ser visto mais como um terceiro médio ou um falso ala de vir para dentro (um vice-Otávio) mas é nestes jogos em que ganha personalidade própria totalmente autónoma (e sente-se importante porque lhe dão... importância acima do normal) que o seu futebol se solta totalmente. Tem rasgo e golo.
Qualquer treinador o quer como multifunções para o utilizar das diferentes formas, mas pensando na teoria dos craques serem especialistas, seria nesta posição de segundo avançado que gostaria de ver Fábio Vieira criar raízes de identidade e crescer como jogador.
Benfica: o bloco e os centrais
No regresso ao campeonato, após a exibição heroica de Amesterdão em resistência defensiva, o Benfica sentiu muitas dificuldades defensivas frente ao Estoril. Pode parecer um caso disfuncional, sentir mais dificuldade em travar Arthur e Mboula a arrancar desde a faixa, do que as deambulações dos avançados do Ajax, Antony incluído. A razão para isso é, porém, taticamente lógica.
Nesta fase da carreira, Otamendi e Vertonghen, centrais encarnados, funcionam melhor em termos de eficácia de corte, marcação e sentido posicional num bloco mais baixo, com apoios próximos, do que numa defesa subida (bloco alto) na qual ficam mais expostos às naturais limitações que sentem no controlo da profundidade em face da menor velocidade que têm perante bolas metidas nas costas a esticar. Por isso, os sustos a cada contra-ataque do Estoril nesse estilo.
É uma questão que compromete o melhor jogo (pensando na natureza inquebrantável das relações defesa-ataque-defesa) que, por natureza, tem uma equipa grande com a defesa subida. É quando baixa o bloco para defender perante um adversário mais forte que hoje aqueles centrais sentem-se mais seguros a controlar o espaço.
Um choque conceptual entre "estilo de equipa grande-natureza dos centrais", mas que num jogo em concreto (que baixe o bloco) não só disfarça como até faz crescer a eficácia da defesa. São ilusões reais.
MODELOS
Mboula
Chegou ao Estoril em janeiro, vindo emprestado do Maiorca, e entrou no onze a fintar, com mudanças de velocidade e imaginação a cada arranque. Com 23 anos, Jordi Mboula é um hispano-congolês feito entre as escolas do Barcelona e o futebol francês, no Mónaco, onde despontou como sénior. Podendo jogar em qualquer flanco, destro, sabe movimentar-se (os fundamentos de jogo vindos desde o futebol base) e depois tem rasgo no um-para-um. Lê os espaços e cria desequilíbrios.
Slimani
Os jogos em que Amorim tentou encaixar a equipa em Slimani (quando devia ser o inverso, Slimani na equipa, ou só esperar por momentos do jogo em que fosse necessário um plano alternativo com um n.º 9 do tipo que antes não tinha) foram contraproducentes para o bom futebol do Sporting. Tanto, acredito, nos novos exercícios de treino criados, como para o sistema preferencial por mudar prioridades e rotinas que o bom jogo anterior tinha. Não lhe deu nada de novo que precisasse (urgentemente) e pode ter-lhe comprometido a época (pontos perdidos). Ter diferentes planos de jogo é importante para uma equipa ao longo da época, mas confundir o principal a meio é o pior que lhe podem fazer.
Bruno Langa
Cresceu no decorrer da época (chegou a Chaves vindo do Amora) e nesta fase revela-se, a lateral-esquerdo, como um dos melhores na sua posição na II Liga. Internacional por Moçambique, Bruno Langa tem robustez ofensiva, é rápido e astuto a fugir ao choque/marcação, e seguro a defender, no corte e até na qualidade técnica de controlo da bola. Aos 24 anos, é um jogador perto da maturidade. Sentiu o impacto do futebol europeu mas agora vê-se que é jogador para nível mais alto.