A JOGAR FORA - Um artigo de opinião de Jaime Cancella de Abreu.
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1 Tanto mais desdenhada quanto mais o Benfica ia vencendo umas edições atrás das outras, a Taça da Liga passou a ser vista com outros olhos desde que deixámos de a ganhar. (Houve até quem abdicasse de lhe chamar "Taça Lucílio Baptista" para tratar de efusivamente comemorar, como se de um título maior se tratasse, as vitórias do seu clube na prova.)
Acontece que por mais que a opção pela "final four" lhe tenha trazido um acrescido glamour e a inócua designação de "Campeão de Inverno" uma tentativa de valorização extra do vencedor, a Taça da Liga não é se não a terceira competição do calendário nacional (a Supertaça não passa de um jogo só) - incapaz, portanto, de salvar a época a quem quer que aspire ao título de campeão.
2 Segundo o Transfermarkt, o valor do plantel do Benfica (295M€) é vinte e duas vezes superior ao do Arouca (13M€), pelo que só posso considerar grotescas as considerações dos comentadores que apontaram desequilíbrios ao plantel encarnado como uma das razões para justificar a sofrida vitória sobre o penúltimo classificado da Liga ou as dificuldades encontradas para eliminar o Boavista (23M€). Também li e ouvi os que divagaram sobre as táticas e as dinâmicas à procura de explicações para tão baixa produção, esquecendo que o nosso mais grave problema não está nos pés dos jogadores, está nas suas cabeças - precisamente um dos pontos fortes do Sporting: a capacidade de Rúben Amorim em liderar mentalmente os jogadores rumo às vitórias.
3 Sem Rafa e Darwin, que marcam mais de quarenta por cento dos golos da equipa e contribuem com dribles, assistências e o diabo para muitos outros, e com Yaremchuk, que joga zero, na frente (com tantos avançados no plantel como é que se investe 17 milhões num barrete destes?), coube a Everton ser "Cebolinha" e abrir o marcador com um golo de levantar o estádio. Mas o Benfica, que há muito não está bem, consentiu o empate num golo de canto em que tinha uns sete ou oito jogadores na linha da pequena área - assim é difícil! - e depois foi o que se sabe e não é difícil de adivinhar quando a equipa perde vantagens que não sabe segurar. Mais do mesmo. Acumuladas quatro derrotas em dois dérbis mais dois clássicos, vamos para a terceira época sem qualquer título - está, então, na hora, de tratar de projetar imediatamente o futuro sem olhar a nomes e a estatutos, sem paninhos quentes, sem recear correr riscos. (A arbitragem deixou-me grandes dúvidas em vários e importantes lances, que prefiro ver com a calma que a pressa de escrever esta crónica não admite. Em todo o caso, não vou já apelidar esta de "Taça Manuel Mota".)
4 Conheci circunstancialmente o Lourenço Coelho quando em 2005 educadamente nos ordenou - ao Ricardo Espírito Santo, ao Luís Miguel Pereira e a mim - que saíssemos do balneário do Benfica quando naquele local considerado sagrado nos encontrávamos a rodar com o Simão Sabrosa uma cena para o DVD "Como se Faz um Campeão". "Quem é este miúdo?", perguntei. Desde essa longínqua data que acompanho a sua carreira como o mais competente dos elementos que nos últimos anos passaram pela estrutura do Benfica - ascendeu a diretor-geral do futebol em 2013 e abandonou o cargo em 2017, ocupando-o precisamente nas quatro épocas correspondentes ao único tetra da nossa história. Será, se lhe forem dadas funções executivas - só foi nomeado para administrador depois da lista precisar de passar de seis para nove membros -, um enorme reforço para a equipa dirigente de Rui Costa.