PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - O campeonato vai regressar após a longa paragem "mundialista". É difícil dizer quem voltará melhor mas, em tese, este interregno poderá ser mais útil para quem tem mais coisas a corrigir do que para quem vai embalado e sentindo que tudo está bem.
O Sporting era um dos casos que exigia análises completas "ao sangue e ao jogo". Até no lado mental, como Paulinho revelou, no seu caso particular, em que, apoiado por Amorim, trabalhou com um psicólogo. Mais uma prova, aqui até antes do jogo, de como o futebol passa pela cabeça antes dos pés. É, noutro prisma, o jogador em concreto.
A forma como os leões regressaram na Taça da Liga (dilacerando, 5-0, o Braga em 45 minutos) mostrou "outra equipa" no jogo e na cabeça. Com Paulinho a finalizar logo no início com uma frieza tecnicista de classe que há muito não se lhe via.
2 - Não será coincidência, mas também não será a descoberta da resolução de todos os problemas.
Há fendas no onze que continuam capazes de lhe provocar sismos táticos durante o jogo. Fala-se na contratação de mais um defesa-central (o destro, para equilibrar um trio dominantemente canhoto) e de um ponta de lança (alguém acessível financeiramente que viva só para o golo) mas o epicentro das crises de jogo leoninas têm estado antes de tudo no meio-campo.
Perderam-se as referências que tinha e (ainda) não se ganharam outras.
O recuo de Pedro Gonçalves para esse espaço dos "dois médios" e, no 3x4x2x1, ser n.º 8 de saída não produz efeitos porque a equipa já não está programada para isso e é difícil mudar todo o seu sistema operativo de pensamento e finalização (Pote está nos dois) em plena competição.
Por isso, o que o jogo do Braga mostrou não foi uma transformação que levou a uma grande exibição e goleada.
Foi antes um "reset" na ideia de jogo já enraizada mas limpa de problemas, da mente e do jogo, que soltou toda a equipa para jogar como sabe reafinando processos já vistos. Trincão (outro jogador a necessitar dessa afinações) seguiu essas pistas e incorporou-se nas dinâmicas coletivas da equipa como antes nunca fizera tão bem.
3 - O relançar do campeonato, competitivamente, depende muito de perceber como o líder destacado Benfica vai regressar. Não tiro conclusões do empate em Moreira na Taça da Liga. Faltavam jogadores e a exibição poderia ter naturalmente dado outro resultado (não existiu quebra exibicional).
Admito que o ruído (propostas loucas de transferências) em torno de Enzo Fernández possa mexer um pouco mas não creio que seja com a cabeça do jogador, que me parece um "pibe" tranquilo que já nasceu a saber lidar com estas coisas.
Lá está, outra vez o lado mental antes do jogo. Talvez esteja mais neste fator do que em questões táticas mais elaboradas (laboratórios de mudanças) o ponto mais importante para perceber as equipas nesta reentrada na competição.
E há um "boné sem banco"
Os dois últimos classificados do campeonato, Paços e Marítimo, durante a paragem viram sair o segundo treinador da época. Tantas falhas, mudanças de ideias e rumo (há casos sem qualquer ponto de contacto entre um treinador e outro) mostram como o problema começa muito antes do banco mas sim na política desportiva seguida desde o início.
O caso do Vizela é diferente e espelha como o dito futebol moderno não olha a emoções. Álvaro Pacheco saiu em ombros por toda a comunidade futebolística vizelense. Tulipa, com as suas ideias de jogo, pega agora num onze com bons jogadores que, de repente, se deparam com outro cenário após terem crescido (desde profundezas de divisões secundárias) com um "boné tático" na cabeça (por vezes, admito, mais divertido no empolgamento pelo jogo do que eficaz no equilíbrio visando resultado). Fica, porém, a vontade que esse boné futebolístico volte rapidamente aos bancos e melhor elogio, acho, não lhe podia fazer.
Vejo indefinida a situação do Gil Vicente (a equipa precisa descolar no seu melhor jogo), para que lado da tabela vão cair ou saltar Boavista e Estoril (projetos diferentes mas interessantes) e abrem-se cada vez mais os olhos em direção a Arouca para ver até onde pode ir o crescimento da equipa e respetivo treinador, Armando Evangelista.