HÁ BOLA EM MARTE - Opinião de Gil Nunes
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Trata-me por candidato
Ninguém é grande sem pensar como tal. Sem reagir como tal. Uma revolução emocional aconteceu em Braga: porque esteve três vezes a perder frente ao Sporting e das três vezes deu a volta por cima; ou porque jogou menos bem frente ao Vitória, mas, ainda assim, não desistiu até ao último dos apitos. Neste momento, de facto, de nenhum fruto o Braga quer só metade. O discurso do treinador adequa-se. Galvaniza. Não queremos apenas a qualificação, queremos sim o primeiro lugar da fase de grupos da Liga Europa. Puxar para cima. E é para apostar no talento, sempre sob a batuta de uma dupla de médios - Al Musrati e André Horta - que equilibra uma estrutura onde também sobressai um avançado especialista em "triturar" defesas - Vitinha. E o início de temporada obedece a uma premissa essencial: o crescimento das segundas linhas. Apurar o talento de Lainez, a velocidade de Álvaro Djaló ou o potencial de Rodrigo Gomes. Venha a rotatividade das competições. O Braga pode não ser candidato a nada mas comporta-se como candidato a tudo. E, quando o homem sonha, a obra nasce. Ou pode nascer.
Gonçalo Ramos: Musa desinspiradora
O avançado benfiquista - de qualidade indiscutível e um legítimo aspirante à linha de ataque da seleção nacional - teve uma semana para esquecer: primeiro foi expulso frente ao Vizela; depois, foi substituído ao intervalo frente ao Maccabi após 45 minutos desinspirados e abstraídos, sem dar "associação" e conexão a um miolo sedento de ligações e, também, sem acrescentar tantas vezes a profundidade que a equipa pedia para contrariar os israelitas. Na Liga dos Campeões, a entrada de Musa desbloqueou o jogo encarnado, tornando-o mais coletivo e, com naturalidade, mais apto a tornar o Maccabi presa fácil. É certo que o amarelo condicionou mas esperava-se mais.
Kenji Gorré: talento explosivo
Adaptar uma tremenda capacidade explosiva e de aceleração às necessidades de equipa. Atributos valiosos, aos quais também se junta uma boa propensão para situações de um contra um. E domínio coletivo. Gorré está mais "compacto" e dá espetáculo: frente ao Paços de Ferreira, aos 17 minutos arrancada imperial e excelente combinação com Bozenik que quase deu golo. Partindo da ala ou em transição rápida, acelerou e capitalizou os axadrezados em direção a uma vitória justa e que contou com a sua assinatura: é certo que a perda de bola de Thomas (Paços de Ferreira) deu uma ajuda mas a explosão de Gorré foi determinante no lance do golo do Boavista.
Diogo Costa: aquele jogo de pés
A derrota do FC Porto frente ao Atlético de Madrid foi de uma injustiça tremenda e o mesmo se poderia escrever em caso de empate. De facto, os dragões foram superiores em todos os domínios do jogo e só mesmo um infortúnio do tamanho do mundo ditou um resultado anormal. Mais uma vez, o guarda-redes Diogo Costa em foco: um jogo de pés de tal forma calibrado que todo o processo ofensivo da equipa por lá começa. E sem problema. Os defesas portistas servem o seu guarda-redes sem hesitação e mesmo a pressão contrária é facilmente ultrapassada. Como se de um líbero se tratasse. Não será exagerado dizer-se que, ao nível do jogo de pés, não há muitos como Diogo Costa.
Marítimo: primeira chicotada
À instabilidade diretiva junta-se o fraco desempenho desportivo. Inexplicável. Ainda por cima quando o técnico Vasco Seabra teve desempenho de mérito na passada temporada, impedindo males maiores. Mas a realidade fala por si: exibições fracas, inconsistentes e um pecúlio de cinco derrotas que acabou por ditar lei justa.