PLANETA DO FUTEBOL - Uma análise de Luís Freitas Lobo
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1 - Para disputar estes jogos há que antes ter ganho outros, o que permite chegar a este nível onde moram os melhores jogadores e equipas. Visto assim, estar nessa dimensão tem, claro, um risco maior de cair contra outros grandes talentos. Mas como isto é futebol, quantas vezes as decisões dos jogos não ficam presas por uma jogada mais estranha que faz terminar o jogo com uma sensação (e um resultado) também estranho?
Aqueles minutos de desconto do FC Porto, quando o jogo parecia terminado, em cima da área do Inter (após, nos 90' normais, a equipa italiana ter sabido defender bem no seu "estilo-cadeado"), trouxeram o som de duas bolas nos ferros, mais outra tirada sobre a linha da baliza e o chamado reino da sorte e do azar (o do futebol, afinal).
2 - Bom estudo do adversário, bom jogo, queixo levantado mesmo depois do fim como Sérgio Conceição pedia na roda final. A ameaça e a coragem permanentes. Dez minutos com menos um jogador a combater 102 quilos de ponta-de-lança na área (tradução: monstro Lukaku) decidiram a eliminatória na primeira mão.
No fim, tocado pela eliminação nos detalhes, Conceição falou do que têm sido estes seus cinco anos no Porto, sem argumentos financeiros, a inventar jogadores capazes de discutir jogos neste mundo. No fundo, como nestes jogos contra o Inter, conseguiu que jogadores deixassem de ser o que são na realidade para serem outra coisa que apenas aparece porque algo superior os convenceu disso (esse superior, o treinador, claro, e, nesses jogadores, via Eustáquio, Grujic, Fábio Cardoso, Toni Martínez, Zaidu, Namaso...).
Nada de desrespeito para eles nesta análise, apenas o recolocar da deceção sentida na sua perspetiva mais certa.
3 - Onde muitos caminham, eles correm. Aquele meio-campo chefiado espiritualmente na carne e no osso (na pressão e no sair da pressão) por Uribe mas que faz, quase por osmose, crescer Grujic e Eustáquio, metendo-os, translúcidos, num ritmo de jogo superior, leva a equipa mais longe do que (sejamos realistas) seria suposto, sobretudo sem a sua "alma-mater" Otávio.
A transcendência que esta derrota pode provocar, não poderá ultrapassar o normal cair duma lágrima de que o treinador falou. Sentimento na pele sem frustração. Para o que resta da época, só a nível interno, a equipa saiu competitivamente com as mesmas dúvidas mas com mais certezas.
Os próximos jogos, com Braga e Luz no horizonte, serão decisivos para "matar a fome". Pela frente, estarão outras equipas valentes, do topo nacional, apenas muda a proporção do cenário. O campeonato, porém, é feito, além destes jogos, de armadilhas menos ameaçadoras mas mais imprevisíveis que, por vezes, não suscitam o apelo do tal ritmo superior. São, quase sempre, nas contas finais, as mais fatais.
Tática
A invasão final de avançados do FC Porto
O bloco defensivo do Inter que fechou o centro
Técnica
Os jogadores insuflados por Conceição
Quem pega no jogo no Braga-FC Porto?
Esqueçam o "olhos nos olhos"
Ainda há o horizonte do título, mas no imediato este confronto Braga-FC Porto tem o segundo lugar (com porta de entrada direta na Champions) como epicentro de choque. O onze de Artur Jorge vive, portanto, numa dimensão que desafia esta mera época atual, tal a implicação que isso tem no edifício financeiro do clube. A equipa buscou, ao longo da época, diferentes formas de encarar estes jogos ditos grandes.
A maior arma tática está em desviar o olhar e enganar o adversário no jogo
O único sucesso (o 3-0 ao Benfica) ficou marcou então por uma inovação tática (a primeira vez que acrescentou um terceiro médio e passou do 4x4x2 para 4x3x3) que, já repetida, não teve o mesmo impacto. Em Alvalade, tentou um sistema inóspito de três centrais para encaixar no adversário e partiu o seu próprio pensado espelho tático (foi goleada). Contra o FC Porto, é natural pensar na importância dos três médios como, acredito, Conceição também pensará (sejam eles de raiz ou em compensações). Não acredito na tese de jogar "olhos nos olhos". Essa é uma frase bonita de coragem mas futebolisticamente redutora e perigosa para o que é um jogo.
Em qualquer caso, imagino ambos a pensar o jogo com a identidade a olhar de lado para o adversário. Até que ponto esse "desviar de olhar" irá ditar quem terá a iniciativa no jogo é a maior questão tática.