PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - Tempo de período de adaptação (entenda-se tempo que demorou a marcar) de Vlahovic à Juventus: no campeonato, 13 minutos; na Liga dos Campeões, 32 segundos.
Após ter-se estreado a jogar como ponta-de-lança puro (no jogo em que marcou na estreia, contra o Verona), teve de reciclar movimentos em Villarreal, um "Pueblo de Champions". De surpresa, a Juventus surgiu num inédito 3x5x2 e Allegri lançou-o na frente em dupla com Morata. Nos dois cenários, a sua potência, física e técnica, a atacar a bola, em profundidade no espaço ou conduzindo-a, para executar rápido, mostrou o poder que faz hoje dele um dos melhores avançados-centro do mundo.
Antes, na história da Juve, só o mítico Sivori, no remoto ano de 1958, tinha-se aproximado a marcar tão cedo na estreia na maior competição da Europa, então contra o Wiener, após 120 segundos. Sivori era um avançado diferente, arredondado na fuga às marcações, com uma técnica ilusionista. Vlahovic, 22 anos, é um protótipo do n.º 9 moderno. Um Adónis atlético com 1,90 m de técnica que desenha uma carreira para atingir níveis muitos altos.
Tem um poder de movimentação ágil invulgar para um jogador que, num primeiro olhar, parece essencialmente físico mas é a inteligência dos momentos e locais de arranque (sentido posicional para se colocar nos sítios certos para receber e arrancar com a bola) que faz a essência do seu futebol, que ganhou em Itália (da Fiorentina para a Juventus) uma aculturação de fundamentos de jogo que não revelava, na origem, dentro do jogo sérvio, onde também comia defesas adversários mas sem ter o mesmo rasgo de leitura de movimentação sem bola.
É impossível olhar para ele ( seu futebol) e não sentir que está ali algo de muito especial.
2 - O infinito renascimento do At. Madrid na Champions surgiu impulsionado por João Félix. Marcou, num cabeceamento que o tornou, num gesto, de "rato" de desmarcação num potente n.º 9. Uma admirável ilusão numa jogada que traduziu um jogo que soube interpretar na perfeição.
Os seus tempos com Simeone não têm sido fáceis, tais as exigências defensivas que lhe colocam e, tantas vezes, a obrigação de jogar mais sobre uma ala onde depois ainda tem de recuar a defender. É, porém, quando conquista liberdade no jogo, como um segundo avançado móvel, que aparece na sua total dimensão.
É, nesse sentido, mais repentista do que Griezmann, com outros atributos para jogar entre linhas, mas nesta estratégia de Simeone em lançá-lo em mobilidade com outro "rato ofensivo", como Correa, faz dançar mais os defesas adversários. Os centrais do Manchester, Varane e Maguire, forte e altos, mas sem a velocidade/agilidade do jogo de cintura que aquela dupla lhes exigiu, sentiram desde cedo como era impossível estabelecerem referências de marcação.
3 - Não é fácil, nesta fase, dizer com certeza qual deve ser o próximo passo mais indicado de João Félix na sua carreira, mas é inevitável, vendo-o jogar, pensar que, aos 22 anos, o seu tempo (entenda-se margem de atuação e evolução) em Madrid sob os ditames de Simeone, já se esgotou.
Isto é, o que tinha de aprender, no sentido de acrescentar ao seu jogo, já o fez, sobretudo no maior compromisso e entendimento do momento defensivo (transição rápida em reação pós-perda e recuo para se posicionar em cobertura). Agora, soltem-no. Onde? Claramente no habitat do futebol inglês. O seu futebol está técnica e fisicamente preparado para essas atmosferas e estilo. E precisa disso.
4 - Um nome para emoldurar taticamente: Parejo. É dos jogadores que, aos 32 anos, sem nuca ter atingido nível de canonização mediática, mais admiro ver jogar pelo relógio de técnica com visão de jogo coletiva que mete na sua equipa, mesmo partindo mais recuado (estilo um n.º 8 de ajuda a pivô defensivo, fazendo até por vezes um "trabalho sujo" defensivo que lhe retira fôlego para decorar a "casa tática global" com flores como gosta e sabe fazer.
No 4x4x2 do "submarino amarelo" de Emery, ele vai para as águas mais profundas do jogo e tendo agora, perto dele, mais solto à frente, outro catedrático da leitura de jogo como Lo Celso, ambos fazem o jogo correr com a... cabeça. O golo que marcou deu-lhe as fotos que merecia nos jornais do dia seguinte que, acredito, sem marcar, não teria tido apesar de durante 90 minutos ter pintado sucessivos quadros de bom futebol.
Como busca o Chelsea atacar a reconquista da Champions?
O Chelsea de Tuchel pode ambicionar reconquistar a Champions mas sabe que, nesta época, já não tem o fator-surpresa que lhe permitia posicionar-se de início um pouco mais na expectativa para depois "matar" o adversário com ataques nas suas costas em profundidade. Agora, quem o defronta, já procura retira-lhe esses 30 metros atrás da linha defensiva. Mesmo assim, é curioso notar como Tuchel continua a procurar mais esse jogo do que o de ataque organizado mais posicional que, em teoria, melhor favoreceria um n.º 9 possante como Lukaku.
A questão está, porém, resolvida: é Lukaku que tem de se adaptar à equipa e não o inverso. No jogo conta o Lille, o "monstro belga" foi para o banco e na ideia de Tuchel, mesmo esperando um adversário que se fosse esconder mais atrás na sua área, estava recuar estrategicamente, chamar o risco dos franceses (vendo terreno para subir), e depois lançar a velocidade embalada de Pulisic, Ziyech e Havertz. Estende-se, assim, num 3x4x3 (que sabe defender a 5) e faz da dupla de médios-centro "corre caminhos", Kanté-Kovacic, a "caixa-forte" dum modelo de jogo que combina diferentes variantes.
É, porém, no transporte rápido saindo de trás por dentro e lançando, em diagonais interiores, os avançados que o seu plano ofensivo se torna mortífero. Com Jorginho a n.º 6 ganha, num ápice, mais pausa para construir e maior circulação de bola em vez da saída vertical da dupla que jogou esta semana.