VELUDO AZUL - Uma opinião de Miguel Guedes
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Aos 63 minutos, Fábio Vieira entra na baliza do Feirense, os dois joelhos a deslizar pelo relvado até às malhas últimas da baliza, fechar do pano, sincronia absoluta sem acerto. Golo falhado quando já se cantava, subtraído pela minúcia relojoeira da falta de "timing".
Renovar a emoção
Os ponteiros atrasaram um microssegundo no lance, como se Fábio nos quisesse relembrar que já marcara o golo da semana ao renovar pelo FC Porto até 2025, três temporadas, no que terá sido a melhor notícia dos últimos dias, após o jogo treino com a Sanjoanense. Fábio Vieira, Vitinha e Francisco Conceição são muito da alma responsável que alavanca o FC Porto em jogos como o de ontem no Dragão. Antes, já Marchesín havia dito que se for necessário contar mais do que 99, ele está lá. Ter um guarda-redes deste valor no banco das principais competições é um luxo mas é, também e neste momento, um bom sinal. A experiência tem sempre que beber na juventude, mesmo quando isso enuncie um pontual veneno de repouso.
Depois, o golo anunciado. Francisco Conceição marca o seu primeiro pelo clube do coração após porfiar, jogo após jogo, com aquela atitude e qualidade indesmentíveis, bola colada ao pé, olhar agudo e comprometido com tudo que faça a equipa mexer. Vem-me à memória aquela assistência para o golo de Evanilson na época passada frente ao Boavista aos 89 minutos, também naquela baliza, anulado quando houve penálti e que nos custou dois pontos. A emoção em explosão, ao abraço ao pai e o balde de água gelada. Já este foi a valer e veio a pedido. Taremi deixou, abdicou e permitiu que Francisco assumisse o penálti impecavelmente executado. Desta vez, foi Taremi a assistir. E não tem acontecido poucas vezes.
Este golo do Francisco, este abraço entre pai e filho, esta dedicação de todos, este obrigado e cumprimento do Sérgio a Taremi ao abdicar do golo mais do que provável, esta comoção e regozijo da família na bancada, esta emoção toda nossa, azul e branca. É possível repetir coisas destas todos os jogos?
A besta das docas
Não valerá a pena enunciar as dificuldades ou somar os resultados negativos, as goleadas penosas, as péssimas ou não tão más exibições. Nem tão-pouco o empate sem golos de 2017/18 em Liverpool, quando já pouco importava e as poupanças eram muitas (sete, só nos dragões, e a estreia de Bruno Costa). O jogo da próxima quarta-feira na Liga dos Campeões com o Liverpool é uma prova de superação e, neste momento, de resgate.
Tendo em conta o resultado da primeira mão, com o Liverpool confortável no apuramento e com o FC Porto a poder resolver tudo na última jornada frente ao Atlético de Madrid, há condições para uma vingança emocional. Que a equipa entre em Anfield Road com a noção e vontade de acabar com a besta vermelha das docas. Pontuar era bom, mas por que temer a vitória?