APITADELAS - Uma opinião de Jorge Coroado
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Independentemente da excelência da preparação que se possa ter, da confiança que se possa alardear, do conhecimento e domínio das regras e regulamentos que se possuam, para um qualquer árbitro que se preze, a experiência de adentrar um relvado rodeado de gente ruidosa, sem razão e sem motivo já agressiva, injuriosa e grosseira, exige a calma que antecede um combate, essa dissociação quase transcendental entre o cérebro e o corpo, como se nada daquilo esteja a suceder, tal qual mente a maior parte dos homens em uma guerra entra em uma batalha, num combate contra um inimigo feroz, selvagem, desrespeitador dos mais elementares princípios de convivência em sociedade, sem lugar entre a humanidade.
A arbitragem do futebol não deixa de ser bonita, aprazível, até afável, que nos faz amá-la na carne, detestando-a na alma!
Porém depois, quando na sequência do apito inicial tudo começa a adrenalina sobe, o corpo e o espírito unem-se de novo, formando um todo, a concentração emerge, a determinação, qual energia brotando de fonte inalcançável, afirma-se com uma enorme apetência para afrontar incompreensões, tudo porque a arbitragem (quem nunca se aventurou não sabe dar valor) seduz como a maior prostituta do mundo, e, de cada vez que se a vê, que se lhe toca, que se a cheira ou sente, fica-se excitado.
A arbitragem do futebol de onze, pelo fascínio que carreia, faz que quem a sente e exerce com paixão, se dispa das mais vetustas roupagens civis, se esprema até não deixar nada, mas deixa uma extraordinária satisfação por cada minuto em que se exerce a nobre missão de arbitrar, apesar de se saber que a mentalidade em redor é corrupta até ao âmago, fria e sem coração. Contudo, a arbitragem do futebol não deixa de ser bonita, aprazível, até afável, que nos faz amá-la na carne, detestando-a na alma!
Dignidade
Não obstante, por convite, permitir continuidade, o regulamento de arbitragem determina que um árbitro finde a atividade na época em que completa 45 anos. Hugo Miguel, comemorou aquela data em janeiro último. Ao invés do divulgado, não foi "excluído". De facto, apesar de instado a prosseguir, com a dignidade, integridade e respeito que sempre demonstrou pela arbitragem, função a que se dedicou jamais pretendendo que a mesma se perfilasse como garante do seu presente, também futuro, com sentido ético e consciência de dever cumprido preferiu dizer: Acabou!
Carneiros
Há, sempre houve, na arbitragem, homens que sabem alguma coisa e querem ver como o responsável encara as situações, e que, a não ser que sejam totalmente corruptos, enquanto dirigidos detestam secretamente o superior, mas também o receiam e, enquanto não surgir quem o afaste, continuam a obedecer às suas ordens. Tudo porque a lealdade para com um mau dirigente é condicional. Isto porque o homem é profundamente estúpido e age como carneiros perante a hierarquia e a autoridade, especialmente quem se sentindo inútil vê na arbitragem o patamar do seu Olimpo.