VELUDO AZUL - Opinião de Miguel Guedes
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Ao vencer categoricamente o Benfica, o FC Porto terminou o ano como a única equipa do Top 6 europeu que não averbou qualquer derrota no campeonato durante o ano civil de 2021. Entretanto, disputaram-se 39 jogos na Liga, onde somou 30 vitórias e 9 empates.
É preciso recuar a 10 de outubro de 2020 e à derrota com o Paços de Ferreira para encontrar os últimos três pontos perdidos e ao jogo de Alvalade, em setembro, para deparar com o último empate.
Depois de Artur Jorge (que o conseguiu em 1986 e 87, dois anos consecutivos), Bobby Robson (em 95) e Villas-Boas a meias com Vítor Pereira (em 2011), esta consistência competitiva durante um ano civil inteiro tem o nome de Sérgio Conceição.
Acresce que os últimos episódios deste ciclo não foram ocorrências anónimas ou vulgares. A saída inglória da edição deste ano da Liga dos Campeões, onde fizemos mais do que o suficiente para passar a fase de grupos, podia ter deixado marcas. Os jogos que se seguiam eram de enorme exigência e a equipa respondeu com coragem, competência e... grande futebol.
À arte, somou o engenho: a vitória sobre o Braga e sobre o Benfica, dois rivais diretos, distancia-os quase que irremediavelmente da luta pelos lugares cimeiros. A vitória concludente na Taça de Portugal, afasta as águias da segunda prova nacional e dá linha de fogo para o que se rasga e coze no balneário do Benfica, acelerando o despedimento de Jorge Jesus e a contestação à "presidência 84%" de Rui Costa.
Entretanto, quatro golos sem resposta na goleada em Vizela para a Liga e a vitória da "cantera" e das segundas linhas num jogo sem objetivo para seguir em frente na Taça da Liga (uma relativa bênção para quem está envolvido em todas as outras provas) com o Rio Ave.
Quando o apanha bolas, miúdo de 14 anos que se quer fazer jogador à Porto, é parte integrante de um golo pela forma ágil e emocionalmente inteligente como repõe a bola em jogo, percebe-se que a competência competitiva não salta gerações.
21 * 3 ou o portismo em genes
Contra o Benfica, a média de idades da equipa titular do FC Porto foi de 25 anos. A alma, essa áurea de distinção que o FC Porto possui e coloca - tantas vezes - em campo, aparece, cresce e renasce. A forma como Vitinha mescla a sua criatividade com equilíbrio, encontra a parceria perfeita no equilíbrio que a segurança de Uribe transporta para o jogo. Assistiu para o golo de Taremi e fez mais um jogaço. Mas Vitinha tem 21 anos, os mesmos de João Mário, subtraído ao clássico com infelicidade aos 30", mas que vimos afoito, arrojado e comprometido a subir à linha e a defender com tenacidade, numa posição que só recentemente conhece.
A mesma e exata idade de Fábio Vieira - chamado ao jogo (a meias com Pepê) com a árdua e ingrata tarefa de "substituir" Luis Díaz -, autor do primeiro golo e de um jogo que dá nota de autor da sua qualidade, raça e inventividade. E ainda, Diogo Costa, 22 anos, na defesa que lançou o primeiro golo.
No banco, viajamos dos 19 anos de Francisco Conceição até aos 29 do "decano" Sérgio Oliveira, vendo ainda João Marcelo e Bruno Costa. Na bancada, Pepe, que não tem idade. No campo, Otávio, nascido em Cedofeita. E Conceição, sempre. E Vítor Bruno. É reconfortante ver tanto portismo traduzido em genes no Dragão.