<strong>ENTREVISTA (parte 2)</strong> - José Manuel Constantino, presidente do COP, não imagina Tóquio"2021 à porta fechada. Por cá, estará a chegar o momento de as abrir. E sem se comprometer com número de medalhas, Constantino aborda o impacto na missão olímpica lusa
Corpo do artigo
A José Manuel Constantino custa ver desporto sem público, sendo esse um assunto que já deveria estar a ser debatido em Portugal. Há mais desportos, além de Fórmula 1 e MotoGP, que anseiam pelos seus adeptos.
"Não haver Jogos Olímpicos em Tóquio teria consequências que nem consigo imaginar"
Não se realizando os Jogos em 2021, estaremos perante um cenário de calamidade?
-Sem dúvida. Para todas as organizações olímpicas, para o Comité Olímpico Internacional, para o comité organizador de Tóquio, para todas as instituições que contratualizaram com o comité organizador. Teria consequências que, nesta altura, nem consigo imaginar, mas que prevejo como destruidoras para o movimento, para o edifício que foi construído para que se realizassem.
Teremos um calendário muito apertado em 2021 e 2022 em termos de grandes provas...
-Sim, fica tudo muito comprimido, porque estamos a trabalhar com menos um ano em relação ao que trabalharíamos. O ciclo seguinte, que é o de Paris"2024, terá três e não quatro anos e as grandes competições terão de ser encaixadas...
Podem cair provas desse calendário?
-Tem de haver acertos, com uma redução daquilo que são os quadros competitivos habituais. O calendário internacional, incluindo o olímpico, terá de ser realinhado em relação desta alteração.
Imagine que os Jogos Olímpicos se vão realizar, mas sem público. Qual a sua visão?
-Já tenho algum receio de emitir opiniões sobre o futuro, dado o cenário de imprevisibilidade, mas acho pouco razoável; mas também já achava pouco razoável o que está a acontecer, que são espetáculos desportivos sem público, só com transmissão televisiva. Agora já me habituei, já é comum, mas o público é a razão de ser do espetáculo. Altera tudo, o comportamento dos atletas... tudo. O espetáculo está mais pobre, mesmo que possamos ver em casa competições de atletismo em que cada atleta está a fazer a sua prova num país diferente. Tem de se alinhar, está tudo bem, mas... e depois, não há público?
"Há modalidades em que o comportamento do adeptos não permitirá grande número"
Pedro Proença, presidente da Liga de Clubes, vincou esta semana a necessidade de o Governo poder deliberar nesse sentido para o futebol...
-Não estou a dizer que têm de resolver amanhã, ou tudo ao mesmo tempo. Mas o assunto tem de ser estudado, avaliado, adotando medidas que permitam a possibilidade de ter espetadores nos eventos desportivos. Aliás, já foram anunciados eventos com público no motociclismo e no automobilismo. Se já é possível - e ainda bem que o é -, esse exercício deve ser feito nos que ainda não têm e querem vir a ter.
No futebol teme-se o comportamento dos adeptos...
-Há modalidades e modalidades. Umas onde o risco é mais baixo e outras onde, porventura, o comportamento dos adeptos não permita grande número de espetadores.
Estamos a meter tudo no mesmo saco?
-Não sei se há saco ou se alguém está a pensar no assunto. Mas já era tempo de estar a ser trabalhado. Não tenho, porém, qualquer informação de que esteja - e se calhar está. Esse esforço tem de ser feito, como é feito noutros espetáculos culturais.
"Adiar os Jogos foi o mais sensato, mas teve consequências muito gravosas"
"Adiar os Jogos ajudou uns e frustrou outros"
Portugal passou a ter mais um atleta de topo, com a naturalização da lançadora Auriol Dongmo, mas o que representará o adiamento dos Jogos, em termos de resultados, não se sabe. Com a média de uma medalha por edição na última década, Portugal traçou como metas para Tóquio dois pódios e 12 lugares de finalistas (oito primeiros), embora o número de candidatos seja superior. O adiamento não mudará isso.
Que influência teve o adiamento dos Jogos Olímpicos na Missão de Portugal?
-Mudou muito. Era uma situação inultrapassável e foi a decisão mais sensata. Isso tem, contudo consequências muito gravosas em toda a estrutura olímpica - mas também em todo o mundo desportivo. Não há nenhuma entidade que não tenha sido afetada. E ainda hoje paira alguma incerteza sobre se os Jogos Olímpicos se irão realizar...
Acha que este adiamento de um ano também não pode ser visto como uma oportunidade para surgirem mais candidatos a medalhas?
-Para os que já estavam apurados e que não tinham qualquer condicionamento de forma, isto foi um desaire, porque tinham um foco previsto para agosto deste ano. Vão ter de fazer uma reprogramação, que não será fácil, pois o quadro de competições internacional ainda não está recomposto. Vamos ver como será na segunda metade do ano. Para quem não estava apurado, é mais um ano. O alargamento do prazo foi uma ajuda para uns, para os outros foi uma frustração, ainda que compreendam a situação.
12565373
Vejamos os resultados recentes: Portugal "ganhou", por exemplo, a candidata Auriol Dongmo no lançamento do peso...
-É candidata a um excelente resultado nos Jogos, sem querer adiantar opiniões tão focadas num ou outro atleta. Mas reconheço valor suficiente aos resultados desportivos que a Auriol tem alcançado, ao nível das melhores que estarão em Tóquio, assim as coisas corram bem, que não tenha lesões e o seu processo de evolução seja estabilizado. Está entre as melhores do Mundo.
Ainda temos Fernando Pimenta (canoagem), Jorge Fonseca e Telma Monteiro (judo), Pablo Pichardo (triplo salto)... O objetivo inicial de duas medalhas não pode aumentar?
-E falta acrescentar mais dois ou três atletas... São atletas habituados a competições quase ao nível dos Jogos Olímpicos, como são os Europeus e os Mundiais. Se há atletas com posições de pódio nessas provas, o expectável é que possam replicar essas prestações nos Jogos Olímpicos. Acho que é um entendimento natural. Se isso se vai traduzir em mais pódios? Gostaria, mas vamos ter de aguardar.