O grande susto de Marc Torra contado na primeira pessoa: "Lembrei-me do Iker..."
Marc Torra sentiu-se mal e o caso de Casillas levou-o a fazer exames. Tinha uma miocardite, parou três semanas e o susto foi grande, mas já quer jogar a final-four da Taça.
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Em português, à mistura com catalão, Marc Torra falou a O JOGO do maior susto da sua vida. O jogador da Oliveirense é o sexto melhor marcador do campeonato e ainda aguarda luz verde para entrar em pista na final-four da Taça de Portugal, que se disputa amanhã e domingo, em Oliveira de Azeméis, com o anfitrião a defrontar o Riba d"Ave (12h00) e o Benfica a medir forças com o Sporting (16h00) nas meias-finais.
Passou pelo pior momento da sua carreira?
-Foram três semanas complicadas. Para mim, foi estranho, e ainda por cima uma coisa tão grave. Quando gostas muito do que fazes, queres ajudar e representar o teu clube e estes dias deram muito que pensar.
"Já me tinha sentido assim outras vezes, mas desta algo me passou pela cabeça, com o que aconteceu ao Iker [Casillas], e pensei que era melhor ver o que se passava"
Como teve uma miocardite?
-Ainda me arrepio. Foi tudo muito rápido. Estava a treinar um exercício de três para três, fui à tabela e custava-me respirar. Mas vínhamos de um jogo muito longo na pista da Sanjoanense, em que fomos aos penáltis, e achávamos que era desta tensão de oito meses de trabalho. Já me tinha sentido assim outras vezes, mas desta algo me passou pela cabeça, com o que aconteceu ao Iker [Casillas], e pensei que era melhor ver o que se passava. Fiz um eletrocardiograma, tirei sangue, fiz um cateterismo de urgência, foi tudo tão rápido que não tive tempo para pensar.
O que mais lhe custou?
-Quando saí do hospital, não me deixaram vir ter com a equipa, porque achavam que precisava de tranquilidade. Perguntava-me o que estaria acontecer, que nem isso podia fazer. Quero muito agradecer a rapidez e eficácia do nosso médico, ao cardiologista que sempre me ouve. E nós, os jogadores, somos muito chatos, com perguntas e dúvidas.
Está preparado?
-Sim e tenho muita vontade de ajudar os meus colegas. A ver se esta sexta-feira consigo fazer um treino completo e posso estar no rinque. Mas dentro ou no banco, quero ajudar a passar o Riba d"Ave.
"Estou há 15 dias sem fazer nada. Nos primeiros dias nem andar me deixavam, mas, entretanto, já caminhei bastantes quilómetros"
Tem a expectativa de poder jogar?
-Sempre tenho essa expectativa, mas estes dias mostraram-me que tenho de ser cauteloso. Estou há 15 dias sem fazer nada. Nos primeiros nem andar me deixavam, mas, entretanto, já caminhei bastantes quilómetros para habituar o corpo. Vamos ver. Já fiz um eletrocardiograma. Vou fazer tudo para estar em pista, mas em coisas do coração quem tem a última palavra é o médico.
O desfecho mais feliz seria jogar e ganhar a Taça?
-Sem dúvida, vou pôr todo o meu "granito de arena" [ndr: dar o contributo], como se diz em catalão, para que isso aconteça. Depois de uma época complicada, seria a melhor forma de agradecer.
Lutar por esta Taça tem um significado especial depois do que aconteceu no campeonato?
-Esta Taça é a única coisa que nos resta. No campeonato aconteceram muitas coisas. Terminámos a primeira volta como líderes e aconteceu o que aconteceu na Luz - com aquele golo legal - e é um momento que marca o campeonato. Marcou os golos em casa com Sporting e FC Porto, porque não é o mesmo jogar com mais dois pontos ou menos dois. Mas não nos queixámos, tentámos trabalhar e tentámos não perder mais pontos até ao fim. Temos de melhorar, que é para isso que estamos aqui.
O pavilhão vai estar cheio?
-Gostaria. Para nós é muito importante. A claque sempre está connosco e com eles sentimo-nos mais fortes. Vamos dar tudo para que fiquem contentes.
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"NO JOGO DA LUZ SENTI RAIVA"
Na 16.ª jornada, na Luz, Marc Torra, de bola parada, fez um golo que foi mal anulado e custou a liderança à Oliveirense. Mais de três meses depois, o catalão reviveu o momento.
Que sentiu no jogo da Luz?
-Muita raiva. Somos profissionais e sabemos o que sofremos para disputar três pontos em cada jogo. Foi a sensação de impotência, porque era um golo que todos viram. Fui o primeiro a ver o golo, celebrei, virei-me de costas, os adeptos festejaram e o árbitro que estava ali.... Não quero mais falar dessa jogada. Marcou o campeonato, mas não significa que não possamos dar os parabéns ao FC Porto. Se ganhou é porque fez algo mais. Temos de ser humildes, para saber quando os outros estão melhor e tratar de melhorar para ir buscar títulos no futuro.
Foi a sensação de impotência, porque era um golo que todos viram
"EUROPA? FOI FRUSTRANTE"
A Oliveirense foi afastada da Liga Europeia pelo Benfica nos quartos de final. Marc Torra recordou.
O que ficou da Liga Europeia?
-Foi frustrante. Foi uma das épocas europeias mais estranhas. Ganhámos aqui o primeiro jogo, perdemos em Forte dei Marmi, fizemos um bom jogo com o Barça aqui, perdemos em França. Temos de melhorar, porque a regularidade que tivemos no campeonato não tivemos na Europa e temos de ver porquê. Nos quartos de final, aconteceu o mesmo. Com as equipas grandes sabemos sofrer e aqui escapou-nos por um golo. A seis minutos do fim, anulam um golo, para mim legal outra vez, porque eles fazem com a luva e a cinco minutos custa muito. Mas temos de ser honestos e não vamos ver se apitaram bem ou mal, vamos olhar para nós e perceber o que temos de aprender para chegar mais longe.
"Liga Europeia? Não vamos ver se os árbitros apitaram bem ou mal, vamos olhar para nós e ver o que temos de aprender para chegar mais longe"
"NUM CAMPEONATO COMO ESTE, TER MENOS GOLOS SOFRIDOS DIGNIFICA"
Questionado sobre as palavras de Guillem Cabestany, técnico do FC Porto, que elegeu a primeira parte do jogo em Oliveira de Azeméis como o momento mais difícil em pista, Marc Torra reagiu: "É de agradecer, porque somos uma equipa nova, que está a iniciar um projeto. O jogo aqui terminou empatado e foi dos melhores jogos a nível tático e individual." Para Torra, houve vários jogos complicados, mas "se tivesse de nomear o mais difícil", seria "o de Barcelos". "Precisávamos daquele jogo para sermos líderes e a equipa reagiu muito bem. Temos de estar orgulhosos, porque num campeonato tão difícil como o português, que é o melhor, ser a equipa com menos golos sofridos dignifica muito a nossa "faena" [ndr: trabalho]. Também fomos a equipa com menos derrotas, mas os empates penalizaram-nos."