<strong>ENTREVISTA - </strong>Guillem Cabestany, há quatro épocas no FC Porto, levou o clube ao 23.º título de campeão nacional, o seu segundo desde que orienta os dragões.
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A época que começou com a Supertaça valeu ao FC Porto um título nacional. O clube falhou a final-four da Taça e o título europeu, mas para Guillem Cabestany o registo é positivo.
Quando sentiu que o campeonato estava ganho?
-Quando acabou o jogo com o Riba d"Ave. Todos tínhamos a certeza de que ia ser um campeonato disputado até ao último jogo e foi até ao penúltimo. Com a qualidade dos adversários, primeiro era acabar o trabalho e depois pensar que o título era nosso.
Como festejou?
-Festejámos com os adeptos e depois com o jantar da equipa. Foi uma satisfação grande que vai durar pelo verão fora.
Falhou o apuramento para a final-four da Taça de Portugal, não podendo lutar pela quarta consecutiva nem pela 13.ª dobradinha. Foi difícil de digerir?
-Ir dois fins de semana seguidos ao João Rocha era um handicap que complicava mais o apuramento. Todos queremos as provas mais importantes, como campeonato e Liga Europeia, mas a Taça de Portugal pode tornar-se tão ou mais difícil que a Champions. É uma pena não estarmos na final-four, mas fico com o global dos quatro anos em que estou aqui, em que quase sempre estamos na luta dos títulos e se ficamos de fora é porque um adversário é melhor. Ficámos fora da final-four da Taça, mas o global da época foi muito bom.
Tem um palpite para a final-four da Taça?
-Infelizmente, acabei a época. Não arrisco nada. Que ganhe o melhor.
"É uma pena não estarmos na final-four da Taça, mas o global da época foi muito bom"
No campeonato perdeu onze pontos fora. Em Tomar não sentiu que o título podia fugir?
-Foi uma derrota dura e não estávamos à espera. Foi uma surpresa que o Tomar tenha descido de Divisão. Mas aí não sentimos que tínhamos o campeonato perdido, porque faltavam muitos jogos e a segunda volta era-nos favorável, por termos os rivais diretos em casa. Essa derrota não abalou a nossa confiança.
Como motivou os jogadores?
-Tentamos sempre fazer autocrítica dos erros. Temos um modo de planear cada semana e quando temos jogos contra candidatos há um nervosismo especial, mas o trabalho é igual. Temos uma equipa madura. Pode perder um jogo, mas recupera rapidamente.
O jogo na Luz foi o mais polémico. Que impacto teve na equipa?
-Teve muito impacto. Aconteceram situações complicadas. Foi um momento difícil mentalmente para os jogadores e, sobretudo, para mim. Tínhamos de recuperar a confiança para os jogos seguintes. Há situações, como nesse jogo, em que os jogadores podem pensar que não estão a fazer o ideal para ganhar o campeonato. Se calhar, no ano passado tivemos melhores exibições, mas agora estamos num ponto de maturidade em que depois de um mau jogo a equipa reage.
"Não mereci ser castigado. Aceito. Vou tentar que não volte a acontecer"
Se voltasse atrás, reagia de maneira diferente após o jogo com o Benfica na Luz?
-Atrás não, mas para a frente estarei mais pronto para uma situação similar, que no desporto pode acontecer. O que vou tentar é estar mais sereno, que sempre tento ser. Quem foi castigado fui eu e, em Paço de Arcos, tivemos um jogo complicado por causa da minha reação, mas superámos.
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Mereceu ser castigado?
-Não. Estou há quatro anos em Portugal e já vi muitos jogos quentes e difíceis para os árbitros. Muitas declarações, tão ou mais ofensivas como as minhas. Aceito a sanção. Vou tentar que não volte a acontecer e quando acontecer a um adversário que os órgãos competentes sejam justos.
O regresso a casa foi complicado?
-Não me arrependo, porque foi uma reação instintiva. Tento reagir pouco com o instinto, mas naquele momento não consegui. Sentimo-nos bastante maltratados e eu acabei por prejudicar a equipa. Assumo sempre os meus erros e fi-lo. Os jogadores, neste caso, deram-me mais apoio a mim do que eu a eles. Saímos da Luz mais fortes para ganhar este título.
"HÉLDER NUNES? SERÁ DIFÍCIL SUBSTITUÍ-LO. NÃO VAMOS TER OUTRO"
Hélder Nunes esteve oito anos no FC Porto, tornando-se capitão e uma das principais referências mundiais. O médio está de saída para o Barça e "será difícil substituí-lo", como admitiu Guillem Cabestany, referindo: "O seu carácter e a sua capacidade de trabalho são virtudes para continuar a ser um dos melhores. Vai haver tendência a comparações, não vamos ter outro Hélder, mas há outros jogadores, com outras características, e esperemos um FC Porto mais forte para o ano." Sobre o melhor marcador do campeonato, Gonçalo Alves, adiantou. "Quando chegou era muito criativo, com qualidade defensiva e agora é reconhecido por todos como um jogador completo."
"BARCELONA NÃO É UM FANTASMA"
FC Porto tirou o Barcelona da frente nas meias-finais da Liga Europeia, mas perdeu a final com o Sporting. Persiste o jejum europeu, depois de, em 2018, ter perdido três vezes com os catalães.
Guillem Cabestany assume discurso otimista, prefere focar-se no futuro e abordou as saídas, recusando falar dos reforços.
Há um trauma europeu?
-O triste é que o clube está há muitos anos sem ganhar e teve muitas oportunidades para o conseguir. Para o ano espero ter a hipótese de voltar a perdê-la, porque é sinal de que estamos com possibilidade de a ganhar e trabalharemos com ainda mais vontade. Se terminarmos tristes, como este ano, será sinal de que voltamos a trabalhar bem e, trabalhando bem, vamos poder estar tristes, mas também contentes, que é o que queremos.
E há o "fantasma" Barça?
-Não. O FC Porto já ganhou ao Barcelona. Nestes quatro anos, ganhámos no Palau, na fase de grupos, nas meias-finais. No ano passado, perdemos no prolongamento e nos penáltis, houve uma igualdade total. Não é um fantasma. É uma equipa com a qual consegues competir. É o adversário com mais títulos e sempre teremos respeito, mas eles também. Eles sabem que não têm a vida fácil. Vamos trabalhar para estar outra vez lá e ganhar, seja na meia-final ou na final.
Como analisa a final-four da Liga Europeia?
-Fizemos um grande jogo contra o Barcelona, o candidato, se calhar o favorito. Contra o Sporting, entrámos bem, mas depois tivemos azar no golo na própria baliza do Gonçalo e no ressalto da bola parada do Ferran Font. Destabilizou-nos e precisávamos de estar tranquilos. Foi o nosso erro. Não fizemos as coisas totalmente bem.
"Contra o Sporting [na final da Liga Europeia], tivemos azar e não fizemos as coisas totalmente bem"
No final elogiou muito a equipa. Este foi o melhor balneário da sua carreira?
-Estou contente com todos os balneários. Já passámos momentos bons e maus e a diferença é que agora somos melhores quando perdemos. Quando se ganha, todos são fortes e se sentem os melhores. O importante é sentir a mesma confiança quando se perde. Esta equipa, mesmo quando perdeu na Luz, empatou em Oliveira ou perdeu no João Rocha ou em Tomar, soube superar isso com mais tranquilidade e confiança.
Com as saídas de Nelson Filipe, Grau, Telmo Pinto e Hélder Nunes, a próxima época vai ser mais difícil?
-Já tivemos mudanças de jogadores importantes, como agora é o caso do Filipão [Nelson Filipe]. Vamos ter o duplo trabalho de adaptar os novos jogadores e criar novos símbolos do FC Porto, como o Filipão. Estamos agradecidos ao trabalho dele e tudo o que deu ao clube, mas estamos a olhar em frente, para que no futuro um outro Filipão se vá embora com o mesmo currículo.
O que vão trazer Malian, Tiago Rodrigues, Benedetto e Miras?
-Quando forem apresentados falo deles.