Seleção Nacional já aponta à medalha de ouro no torneio para os países que se estão a iniciar no hóquei no gelo, mas a equipa, recheada de emigrantes, continua a ter de treinar no pavilhão de Sintra
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Há dez anos, assegura uma praticante do hóquei no gelo espanhol, afirmar que se praticava esse desporto no país vizinho era algo que surpreendia qualquer um. Hoje, a modalidade, naquelas paragens, tem ligas e seleção nos dois sexos. Portugal, uma década depois, continua no patamar inicial. Nos últimos dois anos, fruto do empenho de umas dezenas de entusiastas, quase todos praticantes da modalidade no estrangeiro, surgiram dois núcleos, os Luso Lynx, que reúne portugueses e estrangeiros residentes no nosso país, e a Seleção Nacional, reservada a cidadãos portugueses. E pouco mais se avançou.
Por cá, o hóquei no gelo continua a tentar lançar raízes. Recentemente passou a integrar a Federação de Desportos de Inverno de Portugal (FDIP), estrutura que filiou a modalidade na Federação Internacional de Hóquei (FIH), num congresso mundial realizado em maio último, em Copenhaga, Dinamarca. A existência de um núcleo de jogadores levou a FIH a convidar Portugal a participar no torneio destinado a países onde o desporto começa a ganhar expressão, o IIHF Development Cup, em 2017 e em 2018. Os primeiros resultados foram tão interessantes que a Seleção já sonha com a medalha de ouro.
O selecionador e treinador nacional, Jim Aldred, um canadiano de 54 anos, que foi arrastado para o projeto pela esposa, Cristina Lopes, sabe o que é necessário para o hóquei no gelo se implantar definitivamente entre nós: "O primeiro objetivo é reconhecer que necessitamos de pistas de gelo permanentes de tamanho oficial. Sem pista não vale a pena pensar no futuro do hóquei no gelo em Portugal."
Aldred orienta, desde dezembro de 2016, cerca de 60 jogadores nos Luso Lynx e na seleção. "Comecei a treinar jogadores que já se juntavam e faziam hóquei em linha. Na equipa nacional temos 20 jogadores, o número normal, com dois a três guarda-redes."
A ligação ao hóquei em patins, que em Portugal é uma potência, praticamente não existe. "Temos muitos jogadores que jogaram ou jogam hóquei em patins e fazem parte dos treinos em Sintra, mas na equipa ainda não temos nenhum. Eles têm o desejo de entrar, mas há diferenças entre os patins e a patinagem em linha e também nas regras."
Jim Aldred faz questão de assinalar que a porta está aberta a quem quiser embarcar na aventura. "O recrutamento dos jogadores é feito através da página de Facebook "Portugal Ice Hockey" e por email: portugalicehockey@gmail.com. Após verificar a experiência dos interessados, decidimos se vamos para a frente ou não com eles. Temos também treinos abertos, para quem quiser tentar."
"Desejamos a medalha de ouro"
Portugal já foi a três torneios internacionais de hóquei no gelo.
Na edição de 2017 da IIHF Development Cup, a da estreia, obteve o primeiro triunfo, sobre Andorra, por 3-2. Seguiu-se uma derrota com Marrocos e nova vitória sobre a seleção do principado, por 5-3.
Já em 2018, Portugal esteve no VII Gladiators Ice Hockey, na Holanda, ficando em segundo, com dois triunfos e um empate, para na nova edição da IIHF Development Cup bater Andorra e Irlanda, perdendo na final com a Macedónia.
Para 2019, o objetivo está traçado. "Desejamos a medalha de ouro", prometeu o selecionador nacional.
Só Portugal e Grécia não têm pistas
Só dois países europeus não possuem uma estrutura para o hóquei no gelo: Portugal e Grécia. Para debelar essa lacuna, a Federação de Desportos de Inverno de Portugal pretende construir um Palácio do Gelo, em Lisboa, estrutura que deverá custar dois milhões de euros, incluindo balneários, bancada e outros serviços de apoio, mas que servirá, para além de desporto - hóquei, curling e patinagem -, para organizar grandes espetáculos, como o "Disney no Gelo".
Enquanto a pista não existe, os jogadores nacionais improvisam, recorrendo ao Hóquei Clube de Sintra, onde treinam duas vezes por semana, sem gelo.
No seu "habitat", em Portugal, só em centros comerciais, pavilhões insufláveis temporários que surgem em épocas festivas ou no Palácio de Gelo, em Viseu. O pioneirismo e capacidade inventiva também já gerou surpresas, como a dos treinos de hóquei no gelo na antiga Praça de Touros de Elvas!