Ao adquirirem 71% do Play Sports Group, que domina o mercado de vídeo da modalidade, os proprietários do canal televisivo de desporto querem segurar um público que vale 50 mil milhões de dólares.
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O valor dos direitos televisivos da Volta a França é um dos segredos mais bem guardados da atualidade - os 227 milhões de euros que a Amaury Sport organisation (ASO) divulga repartem-se por mais de dez corridas e ainda o Rali Dakar e a Maratona de Paris -, mas sabe-se que as audiências, mesmo em baixa no último ano, são as segundas mais altas do desporto mundial (2,6 mil milhões de telespectadores, face aos 3,5 mil milhões do Mundial de futebol) e que atingem um mercado em forte expansão, o dos consumidores de ciclismo, a investirem já 43 milhões de euros anuais. É a esse grupo que a Discovery, proprietária do canal Eurosport, pretende chegar, tendo alargado a sua influência ao adquirir 71% da participação no Play Sports Group, empresa de média digital.
Sobretudo conhecida no meio do ciclismo, a Play Sports possui 13 canais de vídeo, sendo o GNC (Global Cycling Network) o mais conhecido. Criada em 2021, a empresa tem 140 especialistas na modalidade e contabiliza 45 milhões de visualizações de vídeos por mês, entre os seus 3,1 milhões de subscritores e 5,7 milhões de seguidores nas redes sociais. Para o grupo do Eurosport, o investimento visa "construir o ecossistema de média número um do mundo dedicado ao ciclismo", por somar os conteúdos de internet à posição dominante nas transmissões televisivas: além do Tour, possui direitos de Giro e Vuelta, dos Mundiais de ciclismo e de 35 das 38 corridas WorldTour.
O Eurosport vai transmitir este ano mais de 200 dias de corridas e de 2500 horas em direto, o que representa o monopólio de um mercado tão específico que tem passado ao lado de outros grandes operadores.
Fazendo acordos com operadores nacionais, o canal desportivo consegue evitar quase sempre as filmagens próprias, um dos problemas do ciclismo - deslocar equipas de transmissão e helicópteros custa entre 50 e 80 mil euros diários -, sendo o outro o elevado número de provas com audiências que não justificam o investimento. Corridas famosas como Tirreno-Adriático, Critério do Dauphiné e Volta à Catalunha estão nessa lista negra, que obriga os organizadores a pagarem para terem transmissões televisivas.
Estas características muito especiais do ciclismo têm sido bem aproveitadas pelo Eurosport e, por outro lado, também pelos organizadores para irem evitando uma "guerra" que vem sendo adiada há bastantes anos: as equipas, limitadas a uma diária pela sua participação, nunca receberam um euro dos direitos televisivos, apesar de, esporadicamente, alguns dos seus proprietários gritarem que é uma injustiça...