"Muito honestamente, não houve respeito". Um discurso emocionado de Carlos Carneiro
A dispensa do Benfica, o sentir que nem todos os adeptos concordaram com a ida para o Sporting, o ter deixado de ser convocado para a seleção e o terminar da época ao melhor nível. Um discurso emocionado de Carlos Carneiro a O JOGO.
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Carlos Carneiro, um dos grandes jogadores portugueses dos últimos anos, viveu dias de sombra, mas está de novo na ribalta.
Ao longo dos últimos anos comentava-se em surdina que estava acabado. No entanto, terminou a época em alta. Como encarou isso?
-Eu também ouvi isso, o mundo do andebol é muito pequeno... Realmente, nos últimos anos passei por momentos difíceis: a dispensa do Benfica, a saída da seleção, para a qual deixei de ser convocado num processo triste, tendo eu sido capitão da seleção em todos os escalões desde os 16 anos. Muito honestamente, não houve respeito pelo meu percurso, inclusivamente as minhas lesões mais graves foram na seleção e não tive sequer direito a despedir-me. Isso é algo que me magoa.
Quer dizer que não renunciou e está disponível para a seleção?
-Com este selecionador claro que estou disponível e nunca renunciaria à seleção, mas tenho a noção de que é bastante difícil.
Percebe-se que gosta muito da seleção?
-Gosto sim, e quem andou lá comigo sabe de alguns sacrifícios que fiz. O Luís Pinto [então fisioterapeuta da seleção, agora no futebol do FC Porto], meu amigo e que me acompanhava sabe bem disso.
Voltando à primeira pergunta, como sentiu este ressurgir ao mais alto nível?
-Este foi o título mais emotivo da minha carreira, porque foi uma época em que voltei a ter prazer a jogar, senti-me útil fora e dentro de campo, consegui ser capitão e ter impacto, ter o respeito dos meus colegas. O meu passado fez com que muita gente não concordasse com a vinda para o Sporting, mas, fruto do meu trabalho, já ninguém põe nada em causa e sabem que irei dar tudo pelo Sporting.
Sentiu-se desapoiado?
-Não. Aliás, tive o apoio de uma pessoa fantástica, que me deu grande força, o Tiago Rocha, que me dizia que eu não tinha desaprendido. No início da época também tive uma conversa com o Hugo Canela, porque queria sentir-me útil, e ele também foi muito importante e disse que contava comigo e acreditava nas minhas capacidades. Também o Carlos Galambas sempre confiou em mim e protegeu-me desde que chegou ao Sporting. E faço questão de referir a minha mulher, Cátia Rocha, incrível comigo, e o meu filho, Henrique Carneiro.