Esmoriz ganhou tudo jogando em "família": "Aqui há muito mais do que voleibol"
Equipa de voleibol feminino cometeu a proeza de terminar o campeonato só com vitórias, subindo 20 anos depois à I Divisão Nacional
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Vinte anos depois, a equipa de voleibol feminino do Esmoriz está de volta à I Divisão. Um objetivo atingido "com sacrifício, lágrimas e superação", como testemunham algumas das 15 atletas que, sob a orientação de Vítor Pinto, cometeram a proeza de terminar o campeonato só com vitórias.
Na próxima época, o clube do concelho de Ovar será um dos sete com equipas masculinas e femininas no escalão principal. E tem condições, segundo o técnico Vítor Pinto, "para fazer uma boa figura".
Mais do que uma equipa, o Esmoriz é uma família. "Este espírito cativa-nos muito porque o que fica, além das vitórias, são as pessoas", conta "Babs", como é conhecida a distribuidora Bárbara Rodrigues. Também Karol, uma das cinco estrangeiras do plantel, testemunha que "só com uma grande união" foi possível ter sucesso. "Formámos uma autêntica família e é claro que, como em todas as equipas, houve uma brigazinha ou outra, mas quem é profissional sabe superar isso", garante a zona 4 brasileira, que era passadora quando começou em Igarassu (Recife), aos dez anos. "Houve muito sofrimento ao longo da época, mas soubemos superar todos os momentos e chorei bastante no dia em que garantimos a subida de divisão. Acho que fui a que mais chorou!", atira.
Natural de Espinho, Matilde Moreira começou no Sporting de Espinho, com sete anos, e é com um sorriso expressivo que conta que não podia recusar "uma proposta aliciante do Esmoriz para fazer parte deste projeto, de em dois anos chegar à I Divisão". "Senti que a nível pessoal seria um grande desafio e uma boa oportunidade para crescer enquanto atleta", salienta.
32 vitórias - O Esmoriz venceu todos os jogos do campeonato que disputou. Na Taça de Portugal venceu mais quatro e foi eliminado nos quartos de final pelo Vilacondense, da I Divisão
Vítor Pinto, o treinador, não tem dúvidas de que "foi muito importante" poder contar com "um grupo de boas jogadoras e de boas pessoas ao longo da época". "Apesar de sermos a equipa favorita desde o início, mesmo com a quantidade de vitórias que fomos conseguindo as atletas continuaram totalmente focadas. Quanto mais ganhávamos mais trabalhávamos, mais vontade as atletas tinham de evoluir. Uma equipa que ganha muito pode ter alguma tendência a relaxar, mas isso nunca aconteceu, de início até final de época", elogia, considerando que há motivos para acreditar numa época estável no escalão principal. "O Esmoriz tem condições estruturais para acompanhar mais uma equipa na I Divisão, como é o caso do masculino. Esta equipa tem uma base muita sólida e, com mais uma ou outra atleta, pode fazer boa figura na I Divisão", remata.
"Elas trabalham até à morte"
Treinador há 30 anos, Vítor Pinto diz que viveu "um dos maiores desafios" da carreira, ao orientar pela primeira vez uma equipa feminina. "Saí da minha zona de conforto. Tive alguma sorte com o grupo que liderei, mas constatei que é radicalmente diferente treinar o feminino", testemunha. "As dinâmicas são diferentes, a forma como se trabalha também e uma das coisas que noto é a capacidade de trabalho e de sacrifício. Tenho esta única experiência, mas senti que as atletas trabalham até à morte, dão tudo até nós dizermos para parar", conta. "Se for preciso fazer o mesmo exercício dia e noite, elas vão fazê-lo simplesmente porque é assim que se faz e porque é assim que é ser atleta", destacou.
Matilde Moreira, líbero e capitã - "Tivemos de ultrapassar muitos obstáculos"
"Foi um campeonato cheio de vitórias e podem pensar que foi fácil, mas passámos por momentos em que tivemos de ultrapassar muitos obstáculos. No Espinho [também subiu à I Divisão] foi inacreditável por ser o clube do meu coração, mas esta época, pela equipa e por todo o trabalho feito, a felicidade foi igualmente preenchedora. Não estava à espera de ser capitã na segunda época no clube. Talvez seja por um pouco de tudo: espírito de liderança, uma boa relação com as minhas colegas e por todas as minhas ações serem sempre em prol da equipa."
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Bárbara Rodrigues, distribuidora - "Aqui há muito mais do que voleibol"
"Formei-me aqui e há três anos saí para o Porto Vólei. Não era um clube como é o Esmoriz. Não gosto de entrar só em campo e não haver balneário. Aqui há muito mais do que voleibol, por isso é que voltei. Além de ser uma equipa, também somos uma família. Temos muito convívio fora do campo e este espírito cativa-nos muito. O que fica, além das vitórias, são as pessoas. Por isso é que gosto muito de jogar cá. Foi muito bom ter sido campeã nacional da II Divisão, ainda por cima pelo clube onde comecei a jogar com nove anos."
Karol Silva, zona 4 - "Deixámos de lado as dores e outras coisas"
"É incrível conseguir duas subidas em quatro épocas [a outra foi no Espinho]. Houve, acima de tudo, muita dedicação. Estivemos cem por cento focadas, demos sempre o máximo de nós, mesmo com dores, cansadas ou com outras coisas na cabeça, deixámos isso de lado e a única coisa em que pensávamos era na conquista do troféu e da medalha. Superámo-nos em muitas coisas. Temos atletas muito boas, o nosso treinador foi espectacular e não tenho muitas palavras para explicar como foi possível, porque foi um ano realmente memorável."
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