ENTREVISTA - Amaro Antunes terminou na terça-feira os festejos da quinta vitória consecutiva da W52-FC Porto na Volta a Portugal e falou em exclusivo a O JOGO antes de rumar a casa.
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Foi comendo francesinhas no Royal, em Penafiel, dentro de uma tradição já com anos, que os ciclistas da W52-FC Porto encerraram as comemorações do penta na Volta a Portugal. Amaro Antunes, entusiasmado, esteve entre os que devoraram duas francesinhas de uma assentada. Em 2017 fora segundo e comera apenas uma. "Não era por ter mais fome, foi para aliviar a pressão que tinha nas costas", disse a O JOGO, rindo-se. E falou então da maior vitória da sua carreira.
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Não se pode dizer, pelo resultado do prólogo (35.º, a 32 segundos do colega Gustavo Veloso), que a sua Volta começou bem?
-Não me correu de feição, devido à queda que tinha sofrido em Torres Vedras. Tinha parte da perna esquerda dorida e sentia-me pouco confortável na "cabra". Para mim era um dia que passava, aliviado, mesmo sabendo que tinha de recuperar aqueles segundos nas etapas seguintes.
Não ficou preocupado?
-A verdade é que mantive a tranquilidade. Foi uma Volta em que sempre estive muito confiante e tranquilo, também pelo grupo que tinha em redor e por ter um diretor desportivo que transmitia essa confiança logo desde início. Sabia que estava bem e não era aquele dia que ia hipotecar tudo.
Na etapa da Senhora da Graça, o ataque do Amaro era o plano A. Não existia um B e um C?
-Aquele ataque era com a intenção de chegar à camisola amarela. Se a estratégia não corresse de feição, haveria o João Rodrigues, o Gustavo Veloso ou outro colega. Alguém iria fazer a diferença.
"O ataque na Senhora da Graça era para a amarela. Se não corresse de feição havia João ou Gustavo"
Portanto, havia alternativas previstas?
-Naturalmente. Aquele ataque não era um acaso, estava planeado. Na reunião ficou definido tudo o que iríamos fazer. Com uma Volta a Portugal que tinha a dureza nos primeiros dias, não poderíamos levar a corrida para o contrarrelógio final. Em Lisboa tinha uma margem confortável. Embora pudesse ter existido sempre um percalço, a intenção era ter essa vantagem.
Tem sido tradição da W52-FC Porto decidir a Volta a Portugal nos três primeiros dias...
-Quando as pessoas são profissionais, procura-se sempre o melhor. No ano passado a discussão foi até ao último dia, até ao risco de meta. Por isso sabíamos que tínhamos de fazer a diferença cedo. Sobretudo eu, por ser um atleta que tinha de a fazer nas etapas de montanha.
Estando de amarelo na Senhora da Graça, só restava uma etapa realmente difícil, a da Torre...
-A verdade é que para fazer diferenças seria sobretudo na Senhora da Graça, como aconteceu. Na Torre a intenção já era defender a camisola. Com o vento, que era imenso, tornou-se impossível alguém movimentar-se. Como estava na frente, não me competia atacar. Os adversários é que tinham de o fazer, mas o João Rodrigues fez um trabalho soberbo. Disse-o várias vezes: foi uma pessoa que vestia a camisola por mim. Sendo o anterior vencedor da Volta, foi uma atitude de verdadeiro campeão.
"Não foi uma Volta fácil. Nem tudo o que se vê na televisão é a realidade"
Esta edição foi muito controlada. Houve algum momento em que sentisse a amarela em risco?
-A verdade é que não foi uma Volta fácil. Por vezes o que se vê na televisão não transmite a realidade. Os adversários atacaram muito e tivemos dias difíceis. Quando o Ricardo Mestre caiu, essa etapa tornou-se complicada, embora controlada pelo Daniel Mestre e pelo João Rodrigues. Em todas as etapas, até se formar uma fuga, havia bastantes movimentações e um desgaste brutal. Conseguimos estar à altura, mas só por isso se pode dizer que foi uma vitória controlada.
Atingir, este ano, um penta com a W52-FC Porto tem significado especial?
-Sem a equipa jamais teria esta vitória. Vesti eu de amarelo, mas foi um triunfo de equipa. Vencer a Volta é o sonho de qualquer ciclista português, mas para mim conseguir o penta pelo FC Porto, o clube do meu coração, enche-me de orgulho.