Chegou a hora de Miguel: "As pessoas não podem ficar desapontadas com um 15º lugar"
Miguel Oliveira sai este sábado do 17.º lugar da grelha de partida para o primeiro Grande Prémio de MotoGP da carreira. Ser estreante não lhe retira naturais ambições
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Antes do final do ano passado, e depois de ter terminado no segundo lugar o Mundial de Moto2, Miguel Oliveira fez os primeiros testes oficiais de MotoGP, tendo o responsável pela nova equipa do português deixado bem vincado que "o nível do campeonato está muito alto e, mesmo acreditando que o Miguel tem qualidade para o MotoGP, há muitas coisas que tem de aprender".
O entusiasmo é grande e associa-se ao orgulho nacional de termos um piloto na Fórmula 1 das motos. Já a expectativa é bem mais moderada, tendo em conta os tubarões com quem se irá bater
Hervé Poncharal parecia ler o pensamento dos portugueses menos familiarizados com uma das mais exigentes disciplinas do desporto. "Se fizermos um top 10 com o Miguel na primeira metade da época de 2019, será fantástico. Mas não espero isso no início", alertava o francês da Tech3, direcionando o discurso para toda uma nação: "As pessoas em Portugal não podem ficar desapontadas se ele terminar as primeiras corridas na 15.ª posição ou mesmo fora dos pontos."
Este domingo, a partir das 17h00 portuguesas, quando abrir o semáforo verde no Catar, Miguel Oliveira arranca, aos 24 anos, para o maior desafio da sua vida.
"O Miguel vai sentir rigorosamente o que eu senti, ou seja, não vai ser relevante tratar-se de MotoGP ou Moto2, pois ele é excelente a lidar com qualquer situação e existem coisas que são mais sentidas por quem está de fora", disse a O JOGO Felisberto Teixeira, o único português a competir, com uma Honda e na condição de convidado, na então denominada categoria de 500cc, em 1998, no circuito espanhol de Jerez de la Frontera.
Miguel Praia, de 41 anos, com uma larga experiência no Mundial de Superbikes - competição mais próxima do MotoGP - e Supersport, antecipa: "Penso que deverá sentir orgulho e prazer, pois trata-se do culminar de um percurso extremamente difícil que o levou até à elite." "Quando se coloca o capacete e se arranca para a volta de aquecimento, todo o piloto tem uma grande capacidade de abstração e a concentração é máxima", adianta aquele que é um dos responsáveis do Autódromo Internacional do Algarve.
Felisberto Teixeira, de 48 anos e atualmente membro do staff técnico da equipa de ciclismo da W52-FC Porto, considera que o primeiro grande triunfo de Oliveira "foi ter conseguido abrir uma porta que estava soldada", referindo-se "à falta de tradição e conhecimento desta modalidade entre nós", mesmo atendendo ao facto de "o Miguel já ser o alvo a bater no Moto3 e 2, tratando-se dos mais talentosos; agora vai continuar a crescer, se bem que, para já, tecnicamente seja muito difícil fazer grandes resultados".
Miguel Praia fala da "página em branco que vai começar a ser escrita, ainda por cima numa equipa da KTM que está algo crua, mas onde o potencial que está por explorar do Miguel pode continuar a trazer coisas positivas". "Nesta fase inicial do campeonato será fundamental saber lidar com as incidências próprias de cada corrida, como as quedas ou as desistências, mas o Miguel será igual a si próprio, ou seja, inteligente, conhecedor do que tem nas mãos e sabendo perfeitamente até onde poderá chegar", avaliou.
Boas exceções, falta a tradição
Portugal possui uma forte ligação ao desporto motorizado, principalmente em termos organizativos e com o Rali de Portugal à cabeça, mas faltam resultados de relevo quando se trata do alto nível. A reboque da entrada de Miguel Oliveira no Mundial de MotoGP, O JOGO recorda as figuras que ajudaram, pelo menos, a fazer-se história num país sem tradição vencedora.
Há poucos portugueses no topo do desporto motorizado
Nas duas rodas, Rui Gonçalves passou de raspão pelo MX1 - atual MXGP, a categoria máxima do motocrosse -, com a particularidade de ter saltado para a elite depois do segundo lugar no Mundial de MX2, ou seja, num percurso semelhante ao de Oliveira (vice-campeão de Moto2). Hélder Rodrigues, em 2011, e Paulo Gonçalves, em 2013, foram campeões mundiais de ralis cross-country, embora os pódios no Dakar lhes tenham rendido maior fama.
Nas quatro rodas, Tiago Monteiro foi o único a pisar um pódio do Mundial de Fórmula 1. Foi terceiro, em 2005, no controverso GP dos EUA, uma corrida em Indianápolis que só teve seis carros. O primeiro português na F1 foi Casimiro de Oliveira, que fez o Circuito da Boavista em 1958. Logo a seguir, entre 1959 e 1964, foi a vez de Mário Araújo Cabral disputar cinco GP"s. Após longo jejum apareceu Pedro Matos Chaves em 1991, mas sem conseguir ultrapassar as pré-qualificações. Pedro Lamy teve a carreira mais longa, entre 1993 e 1996, sendo o primeiro a pontuar. Nos ralis, Armindo Araújo foi piloto WRC, num Mini, em 2011 e parte de 2012; um sétimo lugar foi o seu melhor.