Volta a França deste ano terá vento, pavé e excesso de montanha, criando condições para atacar o prodígio que pode ser o mais novo de sempre a festejar o tri.
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Há década e meia - depois de Lance Armstrong, que teve os títulos retirados - que ninguém chega com tanto favoritismo à Volta a França como Tadej Pogacar.
É esse o crédito do bicampeão do Tour, o esloveno que pode ser o mais novo de sempre a fazer o tri - Froome festejou-o com 31 anos, Bobet com 30, Indurain e Lemond com 29, Anquetil com 28 Hinault e Merckx com 27. O corredor da UAE Emirates tem 23 anos e este é o maior desafio da carreira, mas apenas por ser o próximo. É que tem superado todos com uma facilidade desconcertante.
Nas duas Voltas a França em que alinhou (e ganhou) faltaram pavé, "abanicos" e excesso de montanha para permitir sonhar aos rivais. É essa a diferença para o Tour deste ano, perfeito para os atacantes: começa num contrarrelógio técnico que defende os trepadores e continua numa etapa assustadora pelo vento na travessia da Great Belt, uma ponte com 18 km. Mas os cortes não têm sido problema para Pogacar; a quinta etapa passa pelo empedrado de Arenberg mas, pelo que se viu na Flandres, onde deixou Van der Poel, que viria a vencer, sem respirar muitas vezes, Pogacar também domina os paralelos. Na montanha o esloveno tem sido rei, embora agora existam subidas para todos os gostos da etapa 7 à 14.
A maior ameaça ao atual prodígio do ciclismo virá dos coletivos de Jumbo-Visma e Ineos-Grenadiers; os neerlandeses têm Primoz Roglic e Jonas Vingegaard, os britânicos Geraint Thomas, Dani Martínez e Adam Yates. Tantos candidatos à amarela permite-lhes tentar jogar de longe. E na segunda semana Pogacar terá de responder aos ataques, ciente de que a equipa não controlará tudo. O míGalibier estará nas 11.ª e 12.ª etapas, que têm cinco montanhas de categoria extra, e essa dureza irá repetir-se nas 17.ª e 18.ª. Serão as oportunidades para quem queira ganhar minutos a Pogacar antes do contrarrelógio final.
Os maiores rivais, inevitavelmente, assemelham-se ao esloveno. Em especial o compatriota Roglic, que navega no pavé e sobe como poucos, mas vem de um Dauphiné onde o colega Vingegaard se mostrou melhor. Na Ineos, Thomas terá de defender-se no crono e dificilmente ganhará a subir, daí ter alternativas na equipa. É que "Pogi" já avisou: "Sinto-me ainda melhor do que no ano passado, estou mais confiante e experiente".
"Crono" técnico sem vantagem para os locais
Jonas Vingegaard emocionou-se perante a multidão dinamarquesa que o aplaudiu na apresentação das equipas e é um dos grandes candidatos à geral. Mas Mads Pedersen (Trek), Kasper Asgreen (Quick Step), Mikkel Bjerg (UAE) são os dinamarqueses a sonhar no contrarrelógio de hoje, que tem 13 km. "Não temos vantagem. É impossível ter andado antes a fundo nestas curvas", lamentou Asgreen, explicando que o percurso é técnico, com 15 curvas complicadas, limitando a influência dos maiores "motores". Com exceção de Filippo Ganna, da Ineos, que joga numa liga à parte e ganhou cinco dos seis "cronos" do ano. Mas Wout Van Aert (Jumbo) quer a amarela ainda na Dinamarca e terá de dar luta hoje. Mathieu Van der Poel (Alpecin) faz a mesma aposta. E a lista fecha nos suíços Bissegger (EF) e Kung (FDJ), dois especialistas.
Rivais e favoritos agora agrupados
UAE Team Emirates
Tadej Pogacar
Eslovénia
23 anos
Em quatro épocas no World Tour já somou 40 triunfos, iniciados na Volta ao Algarve de 2019, entre eles conta 11 gerais por etapas, e, no topo da pirâmide, leva duas Voltas a França, a primeira conquistada de surpresa, a segunda com domínio total. "A preparação foi boa, estive em altitude, estou em boa forma. Estou preparado, ainda mais confiante", disse em Copenhaga, alertando para "uma primeira semana traiçoeira" e para a covid-19: "Preocupante".
Jumbo-Visma
Primoz Roglic
Eslovénia
32 anos
Jonas Vingegaard
Dinamarca
25 anos
Primoz Roglic ganhou três Voltas a Espanha, mas o Tour anda enguiçado para o esloveno que era líder mundial até surgir "Pogi". Daí a equipa ter também Vingegaard, que o ano passado assumiu a liderança quando "Rogla" desistiu e foi segundo. "Jonas e eu somos mais fortes juntos. É isso que nos deixa mais confiantes", garante o esloveno. A dupla até juntou a família, para aumentar a "química".
INEOS Grenadiers
Adam Yates
Grã-Bretanha
29 anos
Daniel Martínez
Colômbia
26 anos
Geraint Thomas
Grã-Bretanha
36 anos
Não é um, nem dois, são três. A Ineos, não tendo um líder à altura de "Pogi", apostou em Thomas, Martínez e Adam Yates, tendo apresentado a equipa como um cartaz dos "Vingadores". "Vamos correr agressivamente. Adam Yates e Daniel Martínez são nossos líderes desde o início do ano e vão continuar a sê-lo", diz Geraint Thomas, único que já venceu o Tour. Se a estratégia funcionar, o trio dará que falar.