ENTREVISTA (Parte 3) - Alfredo Quintana confidencia que não estava à espera do sexto lugar no recente Europeu e conta uma "história deliciosa", vivida no balneário, antes do triunfo sobre a fortíssima seleção gaulesa.
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A tranquilidade com que Quintana enfrenta os maiores desafios e faz defesas do outro mundo, é transportada para o contacto com a Comunicação Social.
Achava possível atingir a sexta posição no Campeonato da Europa?
-Não imaginava que fosse possível. Pelo menos falo por mim. Sabia que teríamos jogos difíceis e fui pensando jogo a jogo. Quem pensava que ganharíamos à França e Bósnia? Podíamos ganhar? Podíamos! Podíamos perder? Podíamos!
Os primeiros desportos que Alfredo Quintana praticou foram o voleibol e o basquetebol, quer na praia quer nas ruas da capital Havana, onde nasceu
Um mês volvido, já sonhou com algum momento especial que tenha vivido nessa competição?
-Por acaso aconteceu ao contrário: antes de defrontarmos a França, estávamos no balneário e lembrei-me de uma premonição que tive quando era criança, de que anos mais tarde estaria num local assim precisamente antes de defrontar a França. Falei disso com o treinador e a primeira coisa que ele disse foi: "Mas viste o resultado?"
O próximo grande desafio da Seleção Nacional é a luta pelo apuramento olímpico, a ter lugar em Paris, com França, Croácia e Tunísia. Quais as suas expetativas?
-Vai ser uma luta muito engraçada. Acho que com concentração e jogando ao nosso nível podemos ultrapassar a Tunísia; a Croácia encaixa muito no nosso tipo de jogo, um jogo forte, de contacto, e acho que vai ser um encontro dividido; com a França, eles devem estar ressabiados, por já terem perdido connosco, e jogam em casa, mas nós queremos ganhar e estar nos Jogos Olímpicos. Vamos ver quem é mais forte.
Durante esse Europeu, a EHF chamou-lhe o "Polvo Português". Como reage aos elogios?
-Já recebi elogios, nomeações, já fui eleito o melhor, mas, muito sinceramente, não ligo a isso. Aliás, por vezes os elogios são a primeira coisa que te pode desencaminhar, desviar do rumo certo. Assim, prefiro abstrair-me disso o mais possível e focar-me no que tenho de fazer, que é trabalhar e ajudar a equipa do FC Porto ou a Seleção Nacional.
CUMPLICIDADE COM HUGO LAURENTINO
Alfredo Quintana desfaz-se em elogios quando o assunto é Hugo Laurentino.
Apesar de terem lutado pela mesma posição, a sua relação com o Hugo Laurentino foi sempre muito próxima...
-Nunca tive um apoio tão forte. Na seleção cubana tive o apoio de outros guarda-redes, mas nunca aconteceu o que acontecia e ainda acontece com o Tino. Nunca tive um colega que jogava na mesma posição a dizer-me: "Ouve lá, eu quero que tu sejas melhor do que eu. Treina para seres melhor do que eu". Achei isso espectacular, pois ele sempre dizia que, sendo mais velho, um dia deixaria de jogar e queria deixar a baliza em boas mãos.
Quintana reconhece o precioso apoio do antigo guarda-redes portista, com o qual criou forte empatia
O que sentiu quando, antes do final do ano passado o Hugo Laurentino anunciou o final da carreira?
-Fiquei triste, porque sempre achei que ele ainda podia dar muito mais. Mais um ou dois aninhos. E, por outro lado, acabei por não realizar o sonho de jogar com ele na Seleção Nacional.
EPISÓDIOS
Pioneiro da "invasão" cubana
Alfredo Quintana foi o primeiro cubano a atuar no campeonato português, num jogo em Anreade (Resende), frente ao Sp. da Horta (vitória do FC Porto, por 34-28), faz nove anos no próximo dia 26.
A chegada do amigo Daymaro Salina
O segundo cubano a chegar ao andebol português foi Daymaro Salina, também para o FC Porto. "Já em Cuba tínhamos uma relação muito boa. Estávamos na mesma turma, viajávamos juntos e a vinda dele para o Porto foi boa para os dois", recorda.
O frio que ainda hoje lhe custa suportar
"Sinto-me feliz por, de certa maneira, ter aberto o caminho a muitos compatriotas que vieram jogar para Portugal", revela Quintana que, confrontado com o facto de ser o pioneiro, acabou por "conseguir uma boa adaptação ao país e à cidade do Porto". "Só tenho um problema, que é o frio. Às vezes, mesmo em casa, com o aquecedor ligado, não dá tréguas", diz, sorrindo, o "gigante" que considera Niklas Landin (guarda-redes dinamarquês do Kiel) como o melhor do mundo na sua posição.